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Terça-Feira,28 de Outubro
Mara Narciso

Poesia

Publicado em 20/10/2025 às 19:00.

Por ser difícil, alguns não gostam de ler poesia. É um gênero até certo ponto abstrato, impalpável, com metáforas, pessoas, coisas e verbos fora de lugar, impondo ações, sensações e emoções inesperadas.

O poeta sabe-se sê-lo desde cedo, porque imagina coisas, não que seja apenas um sonhador, pois ter sonhos não é prerrogativa apenas de poetas. Cria seu mundo vindo de pensamentos chegantes em forma de poesia. Prepondera em sua imaginação um rearranjo da realidade que foge às leis universais. Ser poeta não é ser feliz, pois alguns são introspectivos e sofridos. Os sentimentos seriam menos intensos sem esses catadores de palavras, aptos a enjaulá-las dentro de poemas, exatamente quando lhes dão asas com novos sentidos.

Minha escrita é jornalística e não literária. Sem ser poeta e convivendo de forma intensiva com esses criadores e suas produções há quase 15 anos, não sei analisar poesia, mas passei a senti-la e a apreciá-la. Para melhor absorvê-la, leio-a em voz alta e de forma repetida. Nem tudo pode ser entendido. Algumas vezes percebe-se o ritmo, a sonoridade, a cadência, as palavras em si, sem entender o sentido do conjunto.

Frases curtas empilhadas não são poesia. Pensar o mundo utopicamente não é poesia. Falar da natureza e das belezas do mundo não é poesia, mas para ser poesia pode-se colocar sentimentos em coisas e alterar o sentido dos verbos.

A poesia está para o poema, assim como o software – programas e instruções estão para o hardware – a máquina.

Li pela segunda vez o 10º livro de Karla Celene “Poemas que o mar deitou na areia”. A primeira vez foi digitalmente e agora impresso. Todos os poemas são sobre o mar e o mundo marinho. Tudo acontece diante do mar, pelo mar e para o mar. A poeta extasia-se olhando o oceano, como são os mineiros distantes e obrigados a pouco vê-lo. O mar deita o poema na areia e Karla Celene coloca na escrita toda a poesia que nela se encerra.

“E o mar/ Por saber a dor/ das despedidas/ Pressente próxima/ Minha partida/ E em derramamentos líquidos/ Delirantes – me chama/ E eu/ Amante doidivana/ Sem temor a consequências/ Atendo ao apelo/...”

Admiro o viver poético de Karla Celene. O mundo fica melhor com sua presença, com sua escrita inspirada, com sua luz e com sua poesia. Não faço nada de mais ao elogiar-lhe a verve, o espírito, a existência. Não exagero; escolho palavras para lhe fazer justiça com proporcionalidade.

Afagar o oceano com poemas sobre ele, como também o leitor, é coisa natural em Karla. Seus versos despertam orgulho no mar, que ao ouvir essa fluidez poética, sente-se maior, mais forte, mais líquido; enquanto isso, quem sorve as palavras, percebe-se, como eu me senti, tão plena quanto a autora grávida de mar.

Redondilhas à beira mar: “Ouço a voz do vento a pedir-me calma/ Tudo tem seu tempo/ E tudo isso passa/ É saber esperas/ Insistir canções/ Que nascem do bem/ E nos corações/ Ouço a voz do vento/ Ouço o próprio tempo/ A espalhar lições do continuar/ E estrelas infindas/ Brincam redondilhas/ Plantam poesia/ Misturam-me ao mar//”.

A poesia de Karla é para vivenciar. Aproveitem-na!

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