‘Ao meio dia, após uma hora na cadeira do dentista, decidi-me por não entrar em minha rua e descer mais seis quadras da avenida João Chaves até o Parque Sagarana. Quando me mudei para o bairro Jardim São Luiz, há 24 anos, o parque era um nada, apenas um cercado, algumas árvores baixas, mais para arbustos, uma incipiente floresta terciária, com poucas árvores de verdade e a presença de um incansável exemplo de amor à natureza: Soter Magno.
Eu passava e via o vereador ambientalista, com frequência, abrindo cavas e plantando mudas em profusão, especialmente paineiras em fila, que lá estão vistosas para serem conferidas. Seu trabalho cresceu e se multiplicou.
Local onde eu encontrei Pagu, minha cachorrona linda, mas dizem que foi ela que me achou, hoje o Parque Sagarana, mesmo no inverno seco, está bonito, verde em parte, um convite ao descanso. Circundado por uma grade verde, o parque tem uma pequena floresta, uma trilha asfaltada por debaixo das árvores, obras de arte, jardim, gramado, mesas para piquenique, adultos, crianças, bicicletas, cachorros, mas, nessa visita havia quatro funcionários municipais já de saída, um vendedor de coco que molhava um canteiro e um homem e uma mulher fazendo caminhada.
Dei alguns passos para melhor sentir o local, olhando ao longe, respirando fundo, apalpando a natureza com os olhos. Estava precisando me inundar dela, submergir nela, então me sentei num banco junto a uma mesa pesada e fiquei mergulhada naquela paz em meio à multidão vegetal. Estava só, mas não em estado de solidão. A pandemia domou meu desejo de estar acompanhada. Aprendi a me bastar e até a desmobilizar a ansiedade e o estado de alerta gerados pelo medo e cuidados com a Covid, situação que existe há 27 meses. Um dia isso também acabará.
Estava relaxada, feliz e consciente disso, no entanto, não consegui fazer o momento durar. Atentei-me ao movimento dos carros na avenida em frente e, olhando em volta, descobri estar sozinha no parque. Eu preciso da natureza, mas não posso querer tudo àquilo exclusivamente para mim. Não estava com pressa, tinha bastante tempo antes do almoço, no entanto, depois de uns poucos minutos, andei alguns passos, encontrei a saída, e voltei para casa, deixando o paraíso para trás, mas logo voltarei para uma calmante imersão.