Mara Narciso

Ódio e amor ao celular

Publicado em 27/05/2024 às 20:40.

“Eu não uso celular, acho difícil, melhor seria se telefone fosse para telefonar; eu quero ligar e atender, nada mais; não tenho interesse na internet, eu tenho é raiva; não tenho PIX e detesto isso, prefiro usar dinheiro”.

Eis algumas declarações de ódio ao milagre chamado celular, feito por pessoas que se sentem mal ao se perceber traídas pela tecnologia, e não estarem como os outros estão, isto é, utilizando-se dos vários serviços que o celular oferece, sentindo-se incapazes de acompanhar os novos costumes. Muitos, mesmo sem peças de reposição, mantêm seus celulares analógicos, relutando em ser dominados por uma máquina poderosa, o celular digital, que eles não conseguem operar, e quando aprendem, não fixam por não usarem.

Em breve não haverá celular analógico, nem telefone fixo; cheque e cartão estão com os dias contados e a transferência bancária por TED e DOC já finaram. O PIX, de pixel – menor elemento colorido em um dispositivo de exibição, pela facilidade e rapidez é o modo brasileiro de transferência bancária conta a conta tão ágil e fácil que quase todos usuários da internet já aderiram. É um processo irreversível. Diante do progresso, que força teve um indivíduo, por exemplo, quando o lampião a gás foi aposentado em nome da eletricidade?

O celular tem dentro dele toda a internet com países, redes sociais, museus, livrarias, comércio de todos os tipos, religiões, filmes, músicas, rádio, teatro, televisão, shows, todas as ciências e conhecimentos humanos na palma da mão. Quem sustenta a internet é gente, com seus dons, fraquezas e taras, um terreno para crimes. É um mundo com leis, mas com pouca punição.

O poder viciante do conteúdo do celular é conhecido desde os primórdios, e a aparente complexidade afugentou parcela da população, em especial a mais madura. A dependência tornou-se um problema à mesa do jantar, visita a amigos, cinema, teatro, reuniões e em especial nas escolas. Em princípio, pelos benefícios indiscutíveis da internet, optou-se pelo seu uso durante os trabalhos em sala de aulas, mas, ao fim da atividade, os estudantes abduzidos pelas redes sociais vão para o mundo da internet e fogem do ambiente escolar. Com poucos conseguindo estudar, novas medidas foram tomadas: recolhimento do dispositivo na entrada.

Pelo domínio que o celular exerce nas pessoas, pela facilidade de comunicação instantânea, ao tilintar do aparelho, larga-se tudo para ver a nova mensagem. Nenéns ficam molhados, comida queima, obrigações são esquecidas, atrasos acontecem, funcionários não trabalham, alunos não estudam, tudo fica para trás em nome da informação constante, em especial as mensagens de ódio e mentira, essas, as mais compartilhadas.

Diante do impasse, pais são impelidos a ameaçar os filhos com o sequestro do celular, que em nossos cérebros funciona como uma droga, oferecendo prazer e estímulo de instante em instante. Um jovem de 16 anos matou os pais e a irmã para se vingar da mãe que lhe havia retirado o celular. Enfrentemos esse novo dilema!

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