Mara Narciso

O que é a dor?

Publicado em 18/12/2023 às 20:25.

Para quem nasce, a dor de nascer; para a mulher que se tornará mãe, a dor do parto, desconforto extremo e passageiro para um bem maior: ser filho e ser mãe. No dueto, o mamilo sangrando para alimentar o recém-nascido e a cólica nos órgãos imaturos para digerir o néctar materno. O crescimento e desenvolvimento têm quedas para andar, testa machucada, queixo suturado na emergência. A partida da mãe na porta da escola causa pavor de ela não voltar. O bullying dos coleguinhas acontece contra a criança diferente. O crescimento se dá, com amadurecimento, e as defesas surgem, sejam físicas, sejam emocionais. O que é um joelho esfolado numa queda, diante da dor da rejeição no primeiro contato amoroso? Ou um braço quebrado, um nada diante das dores reservadas a cada vida?

Em casa se encontra acolhimento, na escola se conhece o mundo. As diferenças estão ali colocadas, e a realidade é apresentada com sua cara feia. O carinho dos colegas supre as necessidades emocionais, e a discriminação mostra que o grupo não aceita a todos da mesma forma, enquanto o estudante se encorpa. Entrando na vida adulta, vem a profissionalização ou a faculdade, onde se encontram espinhos e rosas. A dúvida pode assaltar o estudante. É quando as dores das frustrações acontecem, podendo se generalizar, porque a vida, em geral, é mais parecida que diferente entre pessoas reais.

Habilitou-se, profissionalizou-se, está no mercado de trabalho e quer formar família. E que o adulto esteja pronto para as dores das decepções, injustiças, agressões, mentiras, traições. As bifurcações com cada um dos seus lados pedindo para ser o escolhido, resultam em boas e más escolhas. É melhor não se sentir culpado pelo tempo desperdiçado. Quando der para sair, saia. Não permita que erros durem a vida inteira.

Dor é coisa que ninguém vê. Dor é ser abandonado. Dor é perder pessoas para a morte. Dor é a droga levar seu filho. As maiores dores físicas são a dor do infarto do miocárdio, a cólica renal, a dor do parto, a dor do câncer metastático.

As dores humanas coletivas de secas, enchentes e outros fenômenos naturais e climáticos são assustadoras e delas brotam a empatia, mas as guerras são os acontecimentos intencionais mais cruéis, pelas perdas materiais do lado mais fraco e as dores lancinantes pelos milhares de mortes. Tais acontecimentos levados à cabo pelo homem civilizado e perverso causam toneladas de dor. Há prazer em exterminar o inimigo. Há uma satisfação indescritível nisso, porque nem acaba uma guerra e começam outras. O que as movem são a ambição pelo poder e território e as riquezas que nele existem.

Não pode haver dor coletiva maior do que numa guerra transmitida ao vivo. Vidas são ceifadas com muito sofrimento dos que partem, mas principalmente agonia nos que ficam. Crianças estraçalhadas e os donos da guerra pedindo mais sangue. A dor da morte deveria ser sagrada. Supõe-se que nascer e morrer tragam padecimento, com a diferença de que o recém-nascido chora e o morto silencia. O que a civilização fará para trazer amarga tortura aos humanos? Mais uma guerra.

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