Mara Narciso

O Milionário

Publicado em 17/02/2025 às 19:00.

Em 2000, surfar na internet, termo usado em seus primórdios quando nem havia Google nem redes sociais, era andar a esmo, sem direção, para lá e para cá, sem saber o que se iria encontrar. Talvez um trojan – Cavalo de Tróia, vírus que invadia o computador e travava todas as funções, e o pior, fixava-se em uma tela azul. Só desligava na parede. Os antivírus eram precários diante da imaginação dos hackers. Era difícil o mês em que não era necessário formatar o computador, ou seja, fazer back-up, zerar, recolocar os programas, repor os arquivos, geralmente com perdas, enfrentar um PC totalmente estranho, sem as manhas ali colocadas e seguir viagem, quem sabe mais esperto para não passar por tudo isso mais uma vez: destino impossível.

Hoje, ao circular por aí encontra-se menos vírus e mais armadilhas da Inteligência Virtual e golpes no fardo e à granel. Mas tem coisas ótimas também. Encontros maravilhosos com a arte em suas mais variadas vertentes, conversas inteligentes, aprendizados mil. Pois deparei-me com uma versão inusitada de “O Milionário” em uma postagem de Celeste Priquitinho, na qual um homem de barbas ruivas, cabeça raspada, toca essa música no acordeon de forma magnífica, sorrindo, mostrando prazer em seguir com seu dedilhado. Viralizou! Trata-se de Emerson Schultz, um músico e professor de sanfona no Paraná, que se diz tecladista que toca sanfona, mas, na verdade, é um tocador genial, de grande talento criativo em arranjo e execução.

O Conjunto Musical “Os Incríveis” – não se dizia banda, tocavam “O Milionário” na época da Jovem-Guarda, causando furor. Eram melodia e arranjo bonitos, sem letra, e os jovens se deliciavam em ouvi-los. O original é “The Millionaire” de Mike Maxfield.

Músicas, cheiros e gostos fazem o teletransporte de corpo e alma para outras eras e lugares. Pois eu me vi em1967, tocando o acompanhamento de “O Milionário” em um asilo de mulheres, certamente o Lar das Velhinhas, no centro de Montes Claros. As estudantes pré-adolescentes do Colégio Imaculada Conceição foram levadas pelas freiras a visitar as idosas, e eu fui escalada para fazer, precariamente, aquilo que eu pensava conseguir: tocar violão. Frequentava o Conservatório de Música Lorenzo Fernandez e as aulas da violonista Geny Rosa, referência de bem tocar violão desde música popular até erudita. Estudei três anos com ela e pouco aprendi por falta de talento.

Tenho ouvido Nelson Gonçalves e outras músicas de antes de eu nascer. Ouço no YouTube as canções que minha mãe cantava. Fazem-me bem retornar no tempo, mas a música de minha vida é “Construção”, de 1971. Caso você não tenha uma única música que lhe represente, a culpa não é do volumoso cancioneiro nacional, mas da sua volubilidade.

Há tempos não conheço uma música que me marque como essas músicas da infância-adolescência me carimbaram. Acredito que isso se deva ao fato de os sentidos de então estarem novinhos e ávidos, e as experiências anteriores serem escassas. Sem outras referências tudo ficava na folha da memória. A qualidade das músicas caiu; isso é fato!

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