Soube que na novela de época “Amor Perfeito”, que se passa em 1940, na Rede Globo às 18 horas, é ambientada em Minas Gerais, pois há um personagem que torce pelo Atlético, uma pessoa que esteve em Poços de Caldas e alguém que está preso à lembranças ligadas a Montes Claros, esta onde estamos, no norte de Minas. Quando fotos foram ao ar, mostrando a cidade, não tiveram nenhuma preocupação em colocar imagens remotas certas. As três cenas apresentadas não são de Montes Claros – MG e nem de Montes Claros – Go.
Joguei a questão no grupo de WhatsApp do Instituto Histórico e Geográfico e soube que, em geral, quando a cidade aparece em filmes ou em novelas é de forma negativa: atrasada, pequena, quente, distante, estradas poeirentas, destino de moças de reputação duvidosa, terremotos e outras características nada positivas.
Montes Claros é uma cidade progressista, que explode em tamanho e problemas que são tratados pelas autoridades e pelo seu povo através de iniciativas da sociedade civil organizada. O censo de 2022 disse que somos 414.240 viventes. Os números da economia enchem os olhos e são um convite para que venham para cá empresas e investimentos. Não há tantas indústrias quanto antes, mas persistem; tem exuberante comércio, assim como prestação de serviços de qualidade em educação e saúde.
No rescaldo da pandemia, ainda que esteja com vida normal, saindo para visitas, obrigações e passeios há mais de um ano, só agora, por dois dias, quando precisei atravessar a cidade dirigindo até bairros distantes do meu, percebi que abriram as comportas e milhares de carros inundaram ruas e avenidas. O trânsito está organizado. Há sinalização precisa e semáforos em lugares estratégicos. A cidade cresceu tanto e seu trânsito mudou de tal maneira, que tive dúvidas de como retornar nas avenidas de maior fluxo. Há pessoas violentas dando fechadas e agindo perigosamente, mas há motoristas gentis que motivam os outros a fazerem o mesmo.
Quando andei por bairros pouco conhecidos para além da via de acesso e que tiveram redefinição de direção, em especial nos giradores, é possível momentos de “jamais vu”, decorrentes de mudanças nas edificações e nos letreiros. Há um despertencimento, como se estivesse noutra cidade. É uma sensação desagradável, porém momentânea, pois logo localizei algo conhecido.
Diante da minha dificuldade, acho incrível motoristas que se orientam bem indo de bairro a bairro sem passar pelo centro e sem se perder. Durante o dia, é razoável acertar, mas à noite, não me arrisco. Sendo de fato necessário, aceito os riscos.
Em algumas situações, o trânsito para, acontecendo alguns minutos de retenção, mesmo fora do pico, que são a entrada e saída das escolas, começo e fim do expediente: “a hora do rush”.
É preciso andar muito e ficar atento para não se perder na própria cidade. A cada dia está mais difícil deslocar-se por Montes Claros, até há algum tempo depreciativamente referida por uma senhora de Belo Horizonte como “uma rocinha iluminada”.