O que há de especial em minha família para merecer um livro, e em que isso poderá interessar a outras pessoas, já que não é histórico e nem árvore genealógica? Todas as famílias são importantes para aquele membro que compartilha sua vida, valoriza e respeita os demais a seu modo. Ao escrever sobre minha família eu faço isso, destacando que, as vidas em geral têm semelhanças, assim como as famílias também as têm, o que pode interessar a toda gente.
Escrevo para publicar desde 2000, quando conheci a internet, portanto é natural que eu fale sobre o que acontece ao meu redor e dentro de mim. Os poetas, mesmo que ficcionem, parecem estar falando de si mesmos. Em geral quem escreve sobre sua família – e as passagens apimentadas existem em todas elas –, transportam-se para outro lugar, usam outros nomes, disfarçam profissões, temporalidade e filhos. Li romances memoráveis usando desse estratagema, utilizado quando o autor prefere não se arriscar a rachar suas famílias já estremecidas ideologicamente.
Já incluí meus escritos em 38 livros coletivos das Academias de Letras as quais pertenço e mais um que escrevi com as Irmãs Franciscanas Missionárias Diocesanas da Encarnação, que estiveram na Guiné-Bissau.
Em 2004 em catarse pus para fora o livro “Segurando a Hiperatividade”, biografia do meu filho Fernando Yanmar Narciso, neurodivergente, rejeitado, excluído, injustiçado e expulso de escola aos quatro anos, publicando-o há exatos 20 anos. Depois vieram “Mosaico” livro de crônicas – 2020, “Segurando a Hiperatividade” segunda edição – 2021, “Gira, Girassol!’, contos – 2023 e agora um livro memorialista “Família Narciso” – 2025, meu quarto livro solo.
Mostro-me como de costume, mas me abstenho de ferir susceptibilidades. Escrevi sobre seis gerações, seguindo a linha do tempo de nascimentos dos meus tios maternos, após falar dos meus avós e citar meus bisavós. Usei a minha e a memória familiar. No grupo sempre haverá quem seja depositário das histórias familiares e o tema, ao me despertar curiosidade, levou-me a perguntar, ouvir, voltar aos episódios a partir de fotos e construir uma linha temporal.
Durante a escrita experimentei sensações de ternura, carinho, afeto, emoção, saudade, vulnerabilidade, sutileza, deleite e um imenso desejo de registrar essas pessoas de forma permanente.
O livro está pronto e lançado. Será relançado no 4º FLAM – Festival Literário do Autor Montes-clarense no dia 11 de abril às 19h30m no Centro Cultural Hermes de Paula, em outro lugar, com outro público.
Família é tema melindroso que poucos ousam destrinchar; aqui se encontra a minha verdade. Meus parentes saíram de fotos em preto e branco, foram revividos e tiveram suas existências eternizadas. De forma carinhosa eu os valorizei e lhes dei asas. Foram destacados em suas singularidades, esforços, derrotas e vitórias. Reinam em mim os genes dos meus avós Petro e Du, assim, do micro ao macro, o particular se torna universal, com similaridades a todas as famílias. Em meu relato poderá haver algo sobre seu núcleo familiar.