Mara Narciso

Ler, ler, ler para poder crescer

Publicado em 04/12/2023 às 19:00.

Dificilmente, pessoas nascidas em um lar onde os pais leem, não gostam de ler. O prazer nessa atividade é melhor construído na infância, mas há adultos, que passam a ler livros volumosos, que antes não venciam, movidos pela curiosidade e satisfação em saber.

Os dois valores sociais mais atraentes são dinheiro e poder, e junto a esses itens, certamente o saber vale tanto quanto eles, sendo um caminho, caso se queira, para conquistar capital e mando. Para pessoas que se acostumaram a buscar informação em livros, lugares onde os temas costumam ser mais abrangentes, profundos e bem argumentados, não é preciso estimulá-las. Já são dependentes do bom vício e, como todos os demais, quanto mais lê, mais livros quer perto de si.

Quando um jovem foge dos estudos, hipnotizado pelos holofotes e fama fugazes das redes sociais, contraditoriamente, ao mesmo tempo em que não estuda, despreza os que não têm as informações detidas por ele. Por dar prazer em poucos minutos, sem esforço, os vídeos curtos suprem as necessidades dos filhos, mas não das mães que mandavam seus filhos em idade escolar ver o noticiário para contar o que fora visto. A internet tirou as pessoas da frente dos livros, em especial os impressos. Voltar é um bom desafio.

As velhas gerações de famílias menos abastadas seguiram ordens paternas e começaram a trabalhar por volta dos doze anos, ou até antes, com sérios prejuízos aos estudos. Os bancos escolares e a educação formal são impactantes na formação da cultura geral. Quando a frequência às aulas é curta, há uma dificuldade em galgar bons cargos dentro do sistema.

A pessoa que não lê, naturalmente não valoriza letras nem livros, e sente que perde tempo lendo, tendo em mente apenas a importância do trabalho e não seu aperfeiçoamento como gente. Após comer e habitar, o ser humano manifesta anseio em consumir arte, cultuar o belo, a literatura, a filosofia, crescer como pessoa, uma parte humana rica e invisível, que eleva o espírito e, saindo do superficial, ensina a abstrair-se, prazerosamente. Assim, acontece o crescimento mental.

Ler é viajar no pensamento do outro; é voar sem asas; é visitar universos, estando no mesmo lugar. O grande Lima Barreto, filho de português e mãe escravizada, em “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, em tudo o próprio autor, em certo ponto fala de um intelectual frequentador da redação de “O Globo”, onde o narrador era contínuo, e o destaca como sendo “autêntica enciclopédia do imaginário”. Passo as páginas com prazer de fã do escritor morto há 101 anos, relendo vagarosamente muitas das suas ideias. Deliciando-me com essa leitura, penso em como vive apenas uma vida quem não lê e como propicia entrar em todas as aventuras quem teve o caminho da leitura indicado pelos pais ou professores. Que mais pessoas resgatem e leiam o iluminado Lima Barreto, carioca, pardo, pobre, autêntico, porém, vencido pelo alcoolismo. Todos aprenderão com ele, uma mente livre, totalmente inapropriada para as míseras quatro décadas em que viveu – 1881 a 1922. 

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