“Lava roupas todo dia, que agonia...” – Juventude Transviada, Luiz Melodia, 1975. Ao ficar viúva, a mulher passava necessidade, mas não morria de fome, porque lavava roupas nas casas de família. Havia dia semanal fixo, e a cada amanhecer visitava uma casa com casal e muitos filhos, para um serviço pesadíssimo: lavar trouxas imensas de incontáveis peças muito sujas. Separava as roupas brancas das de cor, as colocava de molho, ensaboava com sabão em pedra, esfregava até dar sangue nas mãos, colocava ao sol para quarar, enxaguava e colocava para secar no arame liso ou farpado da cerca. Para vencer o amarelado do tempo usava-se o anil, um pequeno cubo achatado azul anil, que era dissolvido na água em pequena proporção, e nela se enxaguava as roupas brancas.
Na roça, a lavação de dá no rio sobre pedras ou sobre tábuas fincadas no meio da água. É preciso levar a roupa suja em trouxas dentro de bacias sobre a cabeça, até a fonte de água e ali fazer todo o serviço. A mulher e raros homens lavadeiros, ficam grande tempo dentro d’água, com frio ou calor, com a pele enrugada e os filhos na margem, ainda tendo de os vigiar. Usa-se o sabão em barra industrial ou aquele feito com cinza e sebo. Usará o calor do sol para clarear e secar as roupas. E enquanto elas secam, almoça a boia fria feita de madrugada. Aproveitam para conversar e cantar, e com isso amenizam a dor da vida dura que levam, na qual lazer e prazer inexistem.
A forma de lavar roupas foi se tornando menos pesada, porque as famílias, após o advento da pílula anticoncepcional, tornaram-se menores, as mães passaram a trabalhar fora, e não apenas como professoras. O volume da trouxa de roupas foi se reduzindo, mas o consumismo aumentou. Não é raro alguém dar uma volta e colocar a veste para lavar. Passou-se a usar sabão em pó, amaciante, escova ao invés de apenas as mãos, principalmente nas calças jeans, acessórios como pregador de roupas, tanquinho, máquina de lavar, secadora, de um tempo para cá, com crediário, para a maioria da população. O varal também evoluiu, porque o arame liso foi substituído pelo varal de nylon, assim como surgiu o varal de teto, o de varanda e o externo, como é norma em Portugal que não tem área de serviço nos apartamentos e as roupas secam em varais de janela, dando para o meio da rua, à vista de toda a vizinhança e de quem passa, fazendo uma festa visual dançante de cores e formas.
As lavadoras conquistaram novas funções para lavar roupas delicadas, tênis, travesseiro, edredom e tudo que se queira limpar. Com isso, homens e crianças maiores, sob supervisão, passaram a tomar conta de suas roupas nas famílias modernas.
Há ainda as roupas descartáveis, e gente que só usa certa roupa uma vez, mas a maioria usa roupas até desbotar, e para lavá-las utiliza água e sabão. O excesso de roupas de tecidos sintéticos, não degradados e nem absorvidos pela natureza atingiram o mesmo limiar do plástico. A poluição advinda das roupas dos oito bilhões de terráqueos precisa de atenção especial quanto ao reaproveitamento. O planeta agradece seu reuso.