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Quarta-Feira,5 de Fevereiro
Mara Narciso

Lado certo

Publicado em 13/01/2025 às 19:00.

Estar do lado certo da História não é ter razão, é muito mais do que isso: é estar do lado da ética, é defender as leis do país, a moralidade social, o respeito ao próximo, é derrubar os preconceitos e dar condição humana e amplos direitos a todas as pessoas. 

O lado certo da História é o lado do golpeado, e não do golpista. Quando alguém dá prejuízo a um desavisado, que, engabelado por um ardil, perde dinheiro e principalmente a paz nos estratagemas da internet, pessoas boas o apoiam. Nessas fraudes virtuais restam a conta raspada e imensa ressaca moral, assim, leva-se palavras de consolo a quem está envergonhado, sentindo-se um incapaz, por ter se deixado lograr por palavras envolventes. A mentira desarma.

No Golpe de 1964, quando o governo, democraticamente eleito, foi derrubado pelos militares, ruiu o Estado Democrático de Direito e foi instalado o terror, que se manteve por 21 anos, resultando em milhares de torturados e centenas de mortos. Estar do lado certo da história é apoiar quem esteve na resistência, os perseguidos, os torturados, a família dos mortos, em prol da volta da Democracia; e estar do lado errado é defender golpistas criminosos, torturadores, assassinos, aqueles que tiveram poderes absolutos sobre uma nação inteira, porém despedaçada.

O filme “Ainda estou aqui”, baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, conta a história de sua mãe Eunice Paiva, que teve o marido Rubens Paiva, engenheiro e ex-Deputado Federal trabalhista sequestrado, torturado, assassinado, cujo corpo ficou mudando de cova, até ser sepultado em um rio. O crime de ocultação de cadáver não prescreve, então o inquérito será reaberto.

Sua família, cuja normalidade foi mostrada na primeira parte do filme, é destruída, restando à Eunice Paiva buscar pelos desaparecidos políticos e colecionar publicações sobre o sumiço do marido.

Após o desaparecimento de Rubens Paiva, a viúva mudou-se do Rio de Janeiro para São Paulo com cinco filhos e reinventou sua vida. Formou-se em Direito, e dedicou-se às causas sociais, com destaque ao direito dos indígenas.

Esperou 25 anos para o Estado Brasileiro lhe entregar o Atestado de Óbito do marido, e chegou a comparecer à cerimônia de sanção da Lei dos Desaparecidos Políticos, assinada por Fernando Henrique Cardoso.

Quando Fernanda Torres, a atriz que faz Eunice no cinema, vence a disputa de melhor atriz de drama, superando Angelina Jolie, Nicole Kidman, Tilda Swinton, Pamela Anderson e Kate Winslet, ganhando o Globo de Ouro, traz de volta “Ainda estou aqui” para reexibição nas salas de cinema. Antes da premiação, já havia sido visto por três milhões de espectadores, e agora já se fala em cinco milhões. Essa conquista, nunca antes conseguida, honra o cinema brasileiro e satisfaz pessoas com discernimento. A Extrema Direita se debate, acha defeitos em Fernanda Torres, na premiação e no filme, não gosta de arte, detesta o cinema nacional e seu país. Para esse grupo furioso, o errado é o certo. E pelo canto da boca ainda resmunga: “a Terra é plana”, eu vi!

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