Mara Narciso

Jogo da vida

Publicado em 16/10/2023 às 20:43.

Poderia ser uma novela romântica da Rede Globo, que tem errado a mão em seus folhetins reiteradas vezes. Copiando Zeca Baleiro “estou tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar”. Apenas o beijo, mesmo que seja técnico, porque a trama em si, com suas intrigas forçadas montam enredos cheios de furos, estritamente inverossímeis. O telespectador desligaria a televisão caso tivesse vontade e, se não a tem, poderá assisti-la, separando as parcas falas úteis das fúteis e situações nefastas.

Uma pessoa correta é antes exceção que coisa comum em novelas. O espectador atento verá os atores deslizando pelo cenário, alternando momentos importantes e banais da história. Todos os tipos de interesses são motivações justificáveis, em especial o dinheiro e o poder. A gana por bens materiais e status é observada mal a novela começa. A maneira como o protagonista sofre desperta comoção ou revolta no espectador. Quase tudo na trama é tramoia, copiando o mundo verdadeiro, porque o que de fato existe é o que acaba por inspirar os novelistas a plantar o novo comportamento nos personagens. Analisando os tempos atuais e as condutas vigentes, a pessoa real é quem dá o mote ao autor, que acaba por abraçar a sugestão.

À sua jovem filha, que estava indo embora de casa, Cartola cantou: “Ouça-me bem, amor/ Preste atenção/ o mundo é um moinho/ Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho/ Vai reduzir as ilusões a pó/”. Ou pedra de moinho ou máquina de moer carne, a vida possui momentos de dor, e para vencê-los e não ser esmagado, quem crê reza e quem não crê se entende com os próprios recursos mentais.

Nos tempos atuais, quem acredita no sentimento maior, logo se vê dentro do jogo do amor, facilmente transmutado em jogo de ódio. Desde quando as redes sociais não tinham esse nome, a exposição, em geral excessiva, mostra o teatrinho do qual o amor tem participado. Tudo não passa de encenação pública, e no reservado é ainda pior, quando se rasga o faz de conta; afinal todos querem viver um conto de fadas, mas vivem mesmo um conto de farsas, com prejuízos na saúde física, mental e financeira. O amor ainda existe e muitos acreditam nele, até mais do que acreditam em bruxas, mas a espontaneidade perdeu feio seu espaço. O que se dá é a fala irresponsável e as representações. Depois, entra em cena o psicodrama para arrumar as coisas. Respeito é substantivo largado no passado.

Em outros setores da vida também se joga com fingimento. Relacionamentos entre familiares, vizinhos, profissionais e amigos se desfaz em instantes. Há um despreparo generalizado para viver a vida, e ao amadurecer, tudo fica ainda mais difícil devido às manias, implicâncias, intolerâncias, impaciências, críticas, censuras, todas selvagens, mantendo a salvaguarda de que possam ainda ser fruto dos dois anos de pandemia.

Vivemos um inquestionável período de “Guerra e Ódio”, um dueto que não descansa. Como resgatar o emblemático “Paz e Amor” do movimento hippie, a contracultura da década de 1960?

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