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Sábado,23 de Novembro
Mara Narciso

Infantilização deliberada de adultos

Publicado em 11/11/2024 às 19:00.

O domínio de pessoas se dá através da força, do poder e de enganar, falseando a realidade e criando ameaças. Tempos atrás os adultos escondiam a dureza do mundo das crianças, afastando-as e dizendo ser conversa de gente grande. Aos pequenos eram escondidos problemas financeiros, desastres, doenças graves e até mesmo mortes, enquanto fosse possível. Na época, vistos como seres fracos, dependentes e incapazes, eram guiados, e não compreendiam quase nada do que estava acontecendo. Nesses mesmos tempos, por serem considerados inaptos para entender, também os doentes nada sabiam sobre seus males.

Durante a Ditadura Militar os poderosos omitiam informações. Brasileiros adultos eram tutelados pela imprensa amordaçada, e assim, portavam-se como crianças inocentes e abobalhadas, vivendo suas medíocres vidas de forma alienada, sem de nada saber. Os nacionais viveram alijados de informação de 1964 a 1979, quando aconteceu a anistia para os torturadores e para os brasileiros que pegaram em armas, havendo a seguir uma abertura ampla, geral e irrestrita. Foi quando a mídia hegemônica, que havia sido aliada do regime autoritário, decidiu-se por contar a verdade aos ignorantes e, ao saber, pessoas estarrecidas viram-se diante de fatos pouco antigos, com corpos insepultos ainda quentes.

As pessoas mais sensíveis sentiram-se indignadas por terem sido enganadas e feito o papel de idiotas. Sentiram-se como se tivessem perdido os anos passados, vendo os fatos através de disfarçados véus. Muitas histórias vieram à tona. Desde essa fase, se passaram 45 anos. Ainda hoje, não se sabe bem o que faz com que pessoas idosas ou não, se neguem a aceitar a realidade, e o curioso é que se acham inteligentes por não acreditar nos fatos ocultos por décadas; creem que não houve ditadura, torturas e mortes, como se crianças fossem. Olhando para o passado, sem a neblina da censura, arrotam ignorância ao negar documentos, filmes, livros, depoimentos, história oral, memória coletiva e não aceitam que foram matados centenas, talvez milhares de brasileiros. Protegidos pela decisão de omitir a realidade, se vangloriam por acreditar na historieta inventada pelo tutor.

Segundo a Comissão da Verdade do Governo Dilma Rousseff foram mortos pelo regime ditatorial 434 pessoas em geral; além desses, mais 1654 camponeses foram eliminados e esses dados vieram ao conhecimento da população através de um levantamento feito este ano, na memória das seis décadas do Golpe Militar.

Os adultos reativos, quando se descobrem ludibriados, por exemplo em um negócio, ou por um parceiro infiel, explode de indignação e vergonha, por ter sido tratado como pessoa de mente débil, mas, atualmente, brasileiros que têm acesso à informação, sentem orgulho de vociferar contra provas claríssimas e legítimas, negando fatos conhecidos por todos. Obrigados por ordens superiores, agarram-se às mentiras, mesmo enxergando a verdade, por pura questão ideológica. Para essas pessoas, vergonha não é ser engabelado; o vergonhoso é ver ruir suas frágeis crenças.

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