Indignada com as hostilidades sofridas na escola e fora dela pelo meu filho Fernando Yanmar Narciso, portador de TDAH – Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade, ao vê-lo com 20 anos, escrevi sua biografia em 300 páginas de um livro. O protesto estava pronto dentro de mim. Em cinco meses, de abril a setembro de 2004, eu o escrevi. Ia fazendo as crônicas temáticas, relia e arquivava, inocentemente. O meu despreparo fez-me publicá-lo com alguns erros e vícios de linguagem, mesmo que, sendo um depoimento em catarse, nele poderiam ser aceitas maneiras regionais de falar.
O lançamento de “Segurando a Hiperatividade” em 26 de abril de 2005 no Automóvel Clube redundou em boas vendas, convites para entrevistas, palestras, mesas redondas, matéria em TV, jornais e revistas, porque fui pioneira no tema. Ninguém falava nisso. De repente, eu, médica endocrinologista, estava estudando um assunto comportamental, o funcionamento cerebral diferente ou neurodivergente, como passou a ser chamado. Li vários livros para entender os sintomas e tratamentos.
Pensei em fazer Psiquiatria, mas acabei optando pelo Jornalismo na FUNORTE, seguindo a carreira literária junto à medicina. Apenas depois de escrever um livro fui me tornando escritora, aprendendo a escrever, inclusive no Curso de Jornalismo tivemos três matérias de Português e outros tantos de redação para rádio, TV e impresso. O curso ampliou meu desempenho na escrita, minha desenvoltura para falar e propiciou minha inserção entre jornalistas, artistas plásticos, músicos e intelectuais. Formei-me em 2010, quando exercia a medicina há 30 anos.
Pessoas que não tinham contato comigo há décadas apareceram quando meu e-mail foi divulgado nas matérias jornalísticas. Outros assustaram-se com minha sinceridade e falta de pudor ao escrever.
Como há muitas mulheres escritoras, a existência da Academia Feminina de Letras de Montes Claros é uma oportunidade para melhor desenvolvermos nossa escrita. Em 2011 fui aceita nessa academia que muito me honra e que neste ano completa 15 anos de criação. Todos os anos é publicada uma Antologia de tema selecionado, com participação das confreiras.
Mesmo não sendo historiadora, como memorialista coletiva e associada do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros desde 2013, escrevo para todas as revistas, assim chamados os livros com fotos. A entidade publicou 32 delas, todo ano desde sua fundação em 2006, e agora completa a maioridade.
Em 2018 fui aceita na Academia Montes-clarense de Letras, que em 2024 completa 58 anos e congrega 40 acadêmicos. Livros com vários escritores, as Antologias anuais foram publicadas, mas em 2020, devido à pandemia, foram três, sendo duas de poesia. Foi quando me aposentei da Medicina e passei a me dedicar à Literatura.
Em 2020 publiquei “Mosaico”, de crônicas; em 2021 saiu a segunda edição de “Segurando a Hiperatividade”, biográfico; em 2022 publiquei “Gira, Girassol!, de contos.
Sem o livro que saiu inteiro de dentro de mim em 2004, nada disso teria acontecido.