Mara Narciso

Flamenco no Sertão

Publicado em 20/12/2022 às 00:07.

Pontualmente, Elisa Pires anunciou seu espetáculo “Ser-tão Flamenco” no auditório do Centro Cultural, informando que, após anos atuando em Belo Horizonte, a Escola de Dança Pátio Flamenco mudou-se para Montes Claros. A pandemia atrapalhou, mas, em sete anos, cresceu e a atuação das suas alunas e da Cia de Dança Pátio Flamenco avança a cada apresentação.

Apenas a mente inquieta de Elisa Pires conceberia a mesclagem da cultura espanhola com o sertão nordestino, num mix de música, ritmo e dança. O resultado veio inteiro, encantando as cem pessoas – medida preventiva da Covid - na plateia das seis apresentações de 15 a 18 de dezembro.

O cenário nordestino com couro, palha e luzes para entristecer ou alegrar foi criado por Guilherme Aquino; cabelos com tranças e fitas, blusas de variadas cores com babados para destacar a delicadeza dos movimentos dos braços e mãos, a estamparia das saias rodadas sacudidas, levantadas e abertas de maneira graciosa são o Nordeste vivo no figurino de Cléssia Canut.

Adereços como chapéu, leque e castanhola enriqueceram as danças, além da entrada de dançarinas levando lanternas, cujo efeito luminoso e ritualístico representa a fé do povo para com Nossa Senhora Aparecida, ao som de “Romaria” - Renato Teixeira.

A música teve Fernando de Marília na guitarra e Cante Flamenco, Gustavo Rosa na percussão, Nilo Rocha no acordeon e Kaík Soares no canto regional. 

A concepção da junção de água e óleo, aparentemente irreconciliáveis gerou um baile envolvente, com momentos dramáticos, começando e terminado com “Disparada” - Geraldo Vandré. A música é cantada num dolorido lamento e, num subindo, acelera pouco a pouco. Numa reviravolta arrebatadora fica festiva, derramando alegria para empolgar a plateia que canta, bate palmas ao ritmo febril dos pés que sapateiam, para depois aplaudir satisfeita.

O espetáculo de 90 minutos consta de oito números, nos quais, a endiabrada menina-dançarina Elisa Pires está no palco em quase todo o tempo, saindo célere para mudar o figurino e voltar com gás e fôlego renovados.

O sapateado firme é a tônica do Flamenco e as execuções podem parecer semelhantes, no entanto demandam treino intensivo, porque o toque na madeira pode ser suave, médio ou forte, seja com a ponta, com o peito, com o calcanhar, com toda a planta do sapato, ou raspado para todos os lados, resultando em sons diferentes. 

O ritmo frenético e a alternância de batidas é algo dificílimo de fazer, exigindo desembaraço e ótima coordenação motora.

No centro do tablado, com exuberante xale, a diretora artística, professora, coreógrafa e mentora criativa de quase tudo que se vê em cena Elisa Pires salta do palco como um furacão.

A transição do flamenco para músicas nordestinas acontece suavemente, ou aos saltos, e acerta uma flechada exata no público, que sabe a letra, quer cantar, e faz isso sob a provocação de Elisa, dona de uma festa para barulhentos aplausos. Não contestem. Montes Claros é “A Cidade da Arte e da Cultura”.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por