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Domingo,5 de Outubro
Mara Narciso

“Feliz aniversário, envelheço na cidade!”

Publicado em 15/09/2025 às 19:00.

Tonta eu fui ao imaginar que não envelheceria, quando, aos 46 anos, portanto na meia idade, sofri um infarto. Coisas da genética. Em minha família, quem ainda não teve infarto, terá. Sabe quanto tempo gasto pensando nisso? Apenas agora, enquanto escrevo. E para não deixar nenhuma dúvida, tenho muito a comemorar em minha medíocre vida. As grandiosidades não foram feitas para mim, que me detenho em coisas miúdas. Caso um número ultrapasse mil, ignoro sua dimensão. As pequenezas distraem-me desde menina quando ficava seguindo por horas o caminho das formigas, ou vendo as abelhas jataí construindo o tunelzinho de cera da casa delas, fazendo zum-zum em um vai e vem interminável. Então, vem o crescer, amadurecer e envelhecer. Não se faz aniversário todos os dias, apenas em um deles a cada 365 dias, exceto nos anos bissextos. Os números de décadas redondas são convenções, e, por favor, nada de dores cruentas por causa deles. Como mulher, diante do exposto, celebro ainda estar aqui. Nem de longe imaginava viver, depois de 29 de dezembro de 2001, quando às cinco horas da manhã senti uma violenta dor no peito, como se um machado me dividisse em duas bandas e fui voando ao hospital. Não é achar que se está morrendo, é ter plena certeza de vivenciar esse momento solitário. Festejemos meus 70 anos; relembremos os telefonemas, as visitas, o glorioso espumante com pizza, alimento que gosto e como duas fatias ao ano, no dia de meu aniversário. Nessa ocasião, me dou o direito de comer o que não posso, assim como poder passar mal. E se eu passar bem, para além do prazer de saborear dois pedaços de pizza? Não peco o pecado da autossugestão, assim, não sentirei efeito algum advindo desse alimento. Antes da ingestão, tomo a enzima lactase, tendo o gosto de acordar bem na manhã seguinte. Ainda ontem, após 68 dias de reforma em casa, ao varrer os detritos de pós de tantas fontes, deparei-me com um quadro gripal atípico com falta de ar, tosse, coriza e, na sequência febre baixa, sintomas esses que foram me deixando, mas que até ontem, no oitavo dia de sintomas, ainda me jogavam de cama. Pois hoje, doze de setembro, aproveitando o embalo de dezenas de desejos auspiciosos e previsões alvissareiras, decidi-me por receber todas essas intenções de peito aberto em minha gavetinha egoísta, assim, cada frase lida, tratei de imaginá-la em sua eficácia aprisionando-a para consumo. Levei a sério essa leitura e a tomei para mim pelo lado denso de significados e intenções, mergulhando nela. Passei a me sentir melhor, desde que incorporei os votos para o meu bem. O efeito atuou como um amálgama sobre meu corpo, com efeito curativo até mesmo em meu íntimo. Foi mágico ter tanta gente junto a mim no exato instante em que envelheço, um acontecimento não universal, portanto um privilégio. Após incorporações de manifestações, estou apta a ficar melhor do que estava antes desse aniversário do qual guardarei na mente as presenças físicas e virtuais. Até o ano que vem!

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