Mara Narciso

Fé, devoção e louvor

Publicado em 22/08/2022 às 22:27.

A pujança da Igreja Católica é vista nas ruas nas imensas Festas de Agosto por cinco dias da segunda quinzena. As celebrações são ritualísticas, e daí se compreende o nível de conhecimento e sabedoria que precisa ter o mestre de cada um dos seis ternos de dançantes. 

O levantamento do mastro ocorre à noite, na véspera do reinado de cada santo: Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e no império do Divino Espírito Santo. O lado sacro das festividades é dado pelos cortejos dos catopês que são os negros, dos marujos que são os brancos e dos caboclinhos que são os indígenas: raças da miscigenação.

Os caboclinhos usam trajes com penas, tocam viola e carregam arco e flecha. Os marinheiros usam chapéus, calças e blusas vermelhas dos mouros e azuis dos cristãos e levam espadas e instrumentos de corda e percussão. 

Os catopês vestem roupas brancas, capacetes bordados com penas de pavão e fitas coloridas nas costas, indo da cabeça aos pés e instrumentos de percussão.

Durante o cortejo há disputa de bandeira, com danças frenéticas de elevada concentração. Destaco o marujo cristão de nome Valdete que mostra equilíbrio, energia, vibração e alegria, divertindo a si e ao público com sua desafiadora dança de estandartes.

Todos os ternos têm suas bandeiras, e ao fim da festa, acontece seu roubo cujo autor só será descoberto no próximo ano. Para além dessa brincadeira, nem tudo é calma entre os diversos grupos. Pode haver conspiração, disputa de poder, e até ruptura com o nascer de um terno dissidente.  

O comando dos mestres precisa superar a falta dos Mestres Zanza e João Faria, suplantar a disputa de egos, buscar o equilíbrio, seguindo regras rígidas para a festa se manter coesa.

A empolgante representação encanta o público e desfaz as fraquezas humanas. A passagem dos ternos pelas ruas da cidade movida pelo estoicismo, obstinação e devoção aos santos mostra como a capacidade de superação das pessoas simples, as reais donas da festa, é maior que qualquer obstáculo.

O poder público e privado comparece com apoios. A classe média chega junto. 

Todas as atenções se voltam para manter uma tradição de pelo menos 183 anos, talvez mais, porque o naturalista francês Saint-Hilaire testemunhou em três de agosto de 1817 devotos em procissão a Nossa Senhora do Rosário no Arraial de Formigas aonde viria a ser Montes Claros.

Todos os ternos têm suas bandeiras, e ao fim da festa, acontece seu roubo cujo autor só será descoberto no próximo ano. Para além dessa brincadeira, nem tudo é calma entre os diversos grupos. Pode haver conspiração, disputa de poder, e até ruptura com o nascer de um terno dissidente. 
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