Mara Narciso

Dinheiro

Publicado em 09/06/2025 às 19:00.

Há quem seja louco por listas, inclusive as faz com ex-namorados, tarefas, remédios, doenças, boletos a pagar, compras e escreve até uma lista de listas.

Há coisas boas e ruins que quem tem não diz: dinheiro, amor, sexo de qualidade, câncer, caspa, ser soropositivo, ter feito procedimentos estéticos e outros.

Quem tem milhões de reais oculta o fato com receio de ser visitado por ladrões ou os amigos pedirem-lhe algum empréstimo. Os ganhadores da Megasena não contam esse fato nem para parentes, uma decisão acertada, pois “prudência, caldo de galinha e dinheiro no bolso não fazem mal a ninguém”.

Quanto mais um item é importante em uma sociedade, mais palavras existem para denominá-lo, entre dicionarizadas, gírias e alcunhas regionais ou familiares. Para dinheiro temos: pila, bufunfa, tostão, mil-réis, boró, capilé, numerário, cabral, barão, quantia, importância, montante, verba, valor, soma, total, monta, pecúnia, nota, moeda, cédula, papel-moeda, cifra, grana, níquel, vintém, cobre, metal, pataca, trocado, mango, tutu, gaita, nica, dindim, capim, erva, cascalho, caraminguá e mais nomes.

Ter dinheiro disfarça feiura, falta de educação, mau-gosto, antipatia, ignorância, transgressão, mas não os oculta. Mantém de pé a expressão “o hábito não faz o monge”, mas ajuda o suficiente. Ao invés de tirar, o dinheiro acentua defeitos de caráter, incluindo arrogância, prepotência, sovinice, desprezo pelos que têm menos e uma sequência de malvadezas impetradas em direção aos que nada podem, ainda que compartilhem a mesma origem.

A riqueza clareia a pele e embeleza a pessoa que o tem, abrindo sorrisos e portas sociais que sem ela não aconteceriam. Mesmo assim, há certos ambientes vetados aos de origem humilde, de baixas classe social, escolaridade e intelectual, mesmo com milhões no banco. O poder está atrelado à conta bancária, assim, quem conquista alto numerário, adquire quase tudo, inclusive a disposição de terceiros em obedecê-los.

O dinheiro não traz felicidade, mas propicia comprar amigos, criando um permanente ambiente de festa em volta do novo rico, uma expressão discriminatória em relação à linhagem de quem chega ostentando, mas não pertence de fato àquele meio.

A fortuna não devolve a juventude, mas ajuda bastante nessa área, porque, junto com o montante, chega a paz, o sono, as viagens, a ginástica, os recursos estéticos, além de que a pele responde bem ao novo estado de humor.

“A grana que ergue e destrói coisas belas” – Sampa, de Caetano Veloso–, não faz um amor retornar, mas acaba servindo de vingança secreta, por se sentir, a partir de então, pessoa de grande importância, porque a grana, junto com ficar conhecido, compra um amor-próprio para lá de exuberante.

O dinheiro traz visibilidade, mas não oferece um amor desinteressado. Os que têm o vil metal também têm a preocupação de não o perder e o cuidado de afugentar abutres interessados em passar bem; ainda que não toquem na moeda em si, dela desfrutam, nem sempre com cautela. Haja autoestima para segurar essa onda.

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