O tempo segue sua alternância entre dias repletos de nada e outros recheados de tudo. Dias cheios podem trazer cansaço ou felicidade. Há períodos temporais que se apresentam com tamanha mesmice que nos fazem perder o rumo durante a semana, mas de súbito pode brotar um dia extravagante. Nele acontece uma conversa profunda com alguém específico, que mora distante e, se perto, antes faltou espaço para uma conversa a sós, agora viável e extensa como a exposição de dois filmes longas-metragens. Conversar é delicioso lazer, assim como ouvir. Nos podcasts com uma hora de duração, o entrevistador escolhe quem possa acrescentar coisas aos ouvidos alheios. Nem sempre quem fala desperta curiosidade para aquilo que diz. Há casos em que o algoritmo oferece algo desconhecido e, sem mãos disponíveis para mudar a atração, acaba-se por ouvir um estranho, mas, a fala sendo boa, consegue-se diversão em assuntos antes fora de seu radar.
Melhor é quando a pessoa que fala está ali presente, discursa com e para você, escuta e se desperta para o que você tem a oferecer. Pelo tempo e distância geográfica, não fora possível levar adiante uma fala mais intimista devido à interferência de pessoas à cena, mas desta vez havia disponibilidade de 240 minutos inteirinhos, sem necessidade de pressa, sem pular de uma manchete a outra, sendo possível o detalhamento. São essas profundidades que nos fazem crescer.
Ah, como é boa uma vida sem agenda, sem alguém ou tarefismo controlando seu tempo! Alguns seres insignificantes iludem-se, achando que têm ascendência sobre você, seus pensamentos e ações. Enquanto isso, raras outras estão com ouvidos atentos, sem outra intenção além de ouvi-lo, sem necessidade de pagamento, como é o caso de uma sessão de psicanálise. Sem programação para além de escutar e se informar, cada interlocutor fala na certeza de não haver constrangedora interrupção para mudança de assunto.
As conversas longas, tão raras, tão boas deveriam ser guardadas em um cofre, sem fotos, sem vídeos e sem interferência do celular, exceto na hora de ir embora, quando, finalmente se consulta o relógio. E no vai e vem de assuntos que podem viajar por décadas em minutos, vai-se conhecendo melhor a história do outro, tão perto em afeto, tão longe em meridiano, sensato em várias decisões, ainda que não perfeito. Fica a experiência de cada um poder iluminar o caminho do outro, mesmo que a mistura de lembranças de todos os quadrantes e de todas as décadas, possam pesar-nos de alguma forma ao término da viagem no tempo.
Assim foi, é e será: conversar com uma pessoa interessante é rara satisfação. Dias obscuros, diante de uma conversa profunda, ganham luminosidade que, no começo trazem questionamentos e depois clareza com as explicações. De que vale uma boa conversa sem reflexão? Então, é pensar até se fartar. Conversar é oportunidade rica, mas não com qualquer pessoa. Tenho preferência por gente que tem preciosidades a expor. Ouvi de alguém que minha fala era seu tesouro e, claro, isso me fez bem!