Mara Narciso

De novo?

Publicado em 03/02/2025 às 19:00.

Para a extrema direita, o comunismo fez surgir o racismo. Por mais estapafúrdia que essa afirmativa possa parecer, há respostas para ela.

Estava escrito “O racismo terá desaparecido quando nem um preto e nem um pardo forem lembrados de sua cor”. O preto quer ser preto e viver em paz, mas sempre é lembrado, em insultos sobre a cor de sua pele. Alguém ataca a tal frase: “Sensacional! Gente, esse negócio de racismo foi inventando pelos comunistas, para polarizar o povo brasileiro. Olhem, o comunismo foi a pior desgraça que já surgiu na história da humanidade”. A resposta irônica: “exatamente! Netanyahu mata palestinos porque é comunista; Trump expulsa latinos porque é comunista”.

Na pré-história havia uma espécie de comunismo primitivo. Após tempos selvagens veio a civilização marcada pela exploração e dominação dos povos. O termo comunismo foi usado pelo francês Restif de La Bretonne em 1793, para ele, “uma ordem social baseada no igualitarismo e na propriedade comum”. Era a década da Revolução Francesa – 1789 a 1799.

Em 1867, a ideia de comunismo foi concebida por Karl Marx e Friedrich Engels: “doutrina das condições de libertação do proletariado, com propriedade comum da riqueza”. “Há semelhanças entre o cristianismo primitivo e o comunismo marxista, onde se vê ações cristãs baseadas na solidariedade e na propriedade comum”. “O primeiro Estado constitucionalmente comunista foi a Rússia em 1917. Em 1922, junto com outros territórios, formou-se a União Soviética” – Wikipédia.

Se “o comunismo inventou o racismo”, o que dizer do tráfico de africanos para o Brasil em seus primórdios com violência extrema nos navios negreiros – início em 1530, quando os primeiros escravizados vieram da Guiné, trazidos por Martin Afonso de Souza? Vinham nus, jogados no porão, amarrados como animais, sem direito a vida. Cinco milhões de africanos chegaram aqui dessa maneira, e mais de 600 mil morreram na travessia. O capitalismo financeiro na Europa determinou a expansão do escravagismo no Brasil do açúcar, do café e do tabaco. O tráfico se deu até 1856.

Romanos, gregos e egípcios possuíam escravizados. Depois, europeus subjugaram europeus, mas quando vários desses povos se tornaram cristãos, tornou-se tabu escravizar seus iguais, ocasião em que foram buscar mão de obra na África. O tráfico de africanos ao Brasil constou de mais de nove mil viagens. Para todos os destinos, saíram da África onze milhões de escravizados.

No século XIX e XX o Governo, para branquear a população miscigenada do Brasil, estimulou a vinda de alemães em 1824, italianos em 1874 e em seguida, japoneses em 1908, oferecendo apoio na recepção dessas famílias. Depois de 1888 – Lei Áurea, sem nenhuma política pública, os ex-escravizados foram abandonados sem trabalho, sendo presos por vadiagem e proibidos de cantar samba, praticar capoeira e exercer sua fé. Revendo essas condições sórdidas, aviltantes e cruéis, entende-se de onde veio a concepção de racismo contra àqueles de pele preta ou parda.

O comunismo não criou o racismo e sim a escravidão o inventou. É preciso desinventá-lo.

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