Dijalma de Azevedo Clemente, 11 anos, portador do Transtorno do Espectro Autista, de mãos dadas com sua mãe era levado diariamente à escola. No dia 12 de julho, com as férias por perto, foi alvejado com um tiro no peito, vindo a falecer antes de o socorro chegar. Estirado no chão, o corpo ficou exposto e sua mãe Adjailma de Azevedo, com a alma dilacerada, ficou ao seu lado, até que o cobriram com um lençol.
Moradores protestaram, pedindo justiça contra a Polícia Militar, “que já chegou atirando”. Os policiais alegaram confronto com traficantes que os atacaram de dentro da mata. Havia sinais de disparos nas viaturas.
Dijalma vestia uniforme escolar e estava indo para a Escola Municipal Professor Darcy Ribeiro em Maricá, região metropolitana do Rio de Janeiro. Por se tratar de criança e mãe pretas e pobres, a tragédia vira “bala perdida”, “uma criança”, “um número”, mas não para a família, amigos e brasileiros conscientes de que todas as vidas importam.
Crispada de dor, precisando de amparo, a mãe do menino falou de forma comovente. Alegre e brincalhão, por ser especial era agarrado a ela, sendo o mais amoroso dos três filhos. Dijalma não voltará e a família nem tem certeza se será feita justiça, o mínimo que se espera do Estado.
O auxiliar de serviços gerais José Roberto de Souza, pai do menino, estava em casa quando ouviu os disparos e saiu correndo. Pessoas disseram que seu filho fora morto pela polícia. Junto com a esposa destruída, foi à Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, e, num desabafo, chorou e discursou contra a covardia da ação policial.
A história do menino foi interrompida. A bala atravessou seu corpo e perfurou a mochila de sua colega que vinha atrás, indo parar no estofado de um carro. Imagens de câmera acopladas ao uniforme dos policiais estão sendo analisadas e o autor do crime será conhecido. Ou não!
O ex-pastor da Igreja Universal, ativista de causas sociais e comentarista da TV 247 André Constantine falou, no dia 13 de julho, sobre a morte de Dijalma. Com sua maneira peculiar e contundente de se expressar, exigiu o cessar já dessa política de matança do povo preto e pobre, morador das periferias, as quais se refere como “Faixa de Gaza” e “Campo de Extermínio”. Defende que haja planejamento e inteligência nas abordagens da polícia para dar um basta ao massacre. Para ele, a Polícia Militar precisa ser reformulada e a desmilitarização não resolveria o morticínio (foi a 15ª criança atingida com seis mortes este ano, no Rio). Morador da favela e testemunha de todos os desmandos das autoridades policiais naquele espaço, Constantine rejeita a desumanização dos trabalhadores que ali habitam e saem cedo para vender sua força de trabalho por um salário miserável. Diz não ter medo e continuará dando voz a essas pessoas, uma voz alta e estridente, que a toda semana fala ao Brasil através da mídia alternativa. Que se reverbere pelos quatro cantos a voz de André Constantine. E quem puder amplificá-la, que o faça.
Fontes: TV 247, O Globo e G1