Quando menina, brincava na porta da casa dos meus avós maternos. A rua Carlos Pereira era de terra, mas logo foi calçada. Os vizinhos se visitavam e conversavam em frente a casa, enquanto as crianças corriam e brincavam de roda.
De manhã, as famílias colocavam a lata de lixo (recipiente de folha de flandres de 50 litros) no portão. O resíduo era quase que, essencialmente, orgânico. Vira-latas era o cão faminto.
O caminhão de lixo ocupava três funcionários: um motorista, um rapaz que pegava a lata e a jogava ao outro, que, sobre a sujeira, dentro do caminhão e sem nenhuma proteção, despejava o conteúdo dela e a devolvia ao que estava na rua. Este a recolocava na origem. O ato envolvia uma ginástica arriscada.
Na zona rural, havia “o monturo” para despejar rejeitos e tocar fogo. As famílias produziam pouco lixo, os descartáveis eram quase inexistentes, a cultura do consumismo mal começara, assim, podia-se construir a casa e nela morar até morrer. O carro, posse de poucas famílias, era o mesmo durante décadas. O fogão e a geladeira eram objetos feitos para durar.
Quando quase todos possuíam tais bens, surgiu a obsolescência programada. O produto se torna inutilizável após curto período de uso.
A limpeza pública já usou carro de boi e carroça para carrear detritos. Depois do caminhão comum surgiram as caçambas específicas com lona, cuja velocidade fazia voar plástico, já em grande quantidade, sujando todo o caminho.
Existiram vários tipos de caminhões de lixo, sendo os mais recentes com caçamba apropriada para coletar, comprimir e conduzir o que o povo devolve para os lixões.
Famílias passaram a viver disso, catando comida e objetos jogados fora. Depois surgiram os aterros sanitários e seus problemas.
A cada dia se produz mais lixo. Quem come um sanduíche de 204g (BigMac) descarta papelão, isopor ou alumínio de peso equivalente. As fraldas descartáveis demoram 450 anos para se desintegrar na natureza, e uma criança gasta seis mil fraldas em três anos.
Os animais marinhos estão sufocados por máscaras descartáveis e plásticos nos oceanos. Criamos o caos. Os vírus estão caóticos, resistindo a nós pelas mutações que os fortalecem e nos matam. Cada um tem sua responsabilidade. Não a terceirizemos.