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Sábado,17 de Maio
Mara Narciso

Ayong e companhia

Publicado em 28/04/2025 às 19:00.

A escritora Cyntia Pinheiro amadureceu e junto com ela seus personagens estão mais consistentes e profundos. A escritora de múltiplas habilidades e todas as inquietudes do mundo abraça o sucesso mais uma vez com Ayong, a continuação de seu primeiro romance Pi-wii.

Soprado em um sonho, Pi-wii fala sobre cinco crianças pobres do Camboja, órfãs de mãe, ao alcance do “homem” que não tem nome, um perverso que abusa dos filhos sexualmente, moralmente e fisicamente. Após imensos sofrimentos, Pi-wii, Derephan, Kol-ha e Nhean conseguem fugir escondidos sobre melancias em um pequeno caminhão. Abusado pelo pai e ferido, Nhean, o mais novo, tem febre durante a viagem e depois fica gelado. Pensando que o irmão está morto, Pi-wii acaba por empurrá-lo da carroceria onde estão clandestinos, e ao cair levanta poeira.

Ayong, o novo romance de Cyntia Pinheiro, conta a história de um menino encontrado na estrada por Naná. Está coberto de terra, e recebe esse nome, porque na língua Khmer, do Camboja, significa “boneco de barro”. O roteiro, mais leve que o anterior, mostra a harmonia de uma família típica daquele país. Ali, Ayong, o menino desmemoriado, conhece o verdadeiro lar cujos membros seguem a religião budista e vivem a cultura oriental.

A verossimilhança e autenticidade inquestionáveis nesse livro contaram com informações fidedignas conseguidas através do guia turístico cambojano Dy Samit, que fala Português se tornou fonte e amigo da autora.

Escrito com cuidado e linguagem literária, traz personagens reflexivos, com ensinamentos budistas, figuras de linguagem, metáforas e outros recursos literários próprios de quem domina a escrita, usando fertilidade imaginativa e não perdendo nem um fio condutor.

Além de trazer como cenário um país longínquo do oriente, cujo meio rural pouco sofreu com a ocidentalização imposta, pode-se conhecer o exotismo da culinária, dos costumes, como um casamento que dura três dias, o modo de vida simples e o baixo consumo de industrializados, mostrando uma riqueza contemplativa e cativante.

Os casais são formados, as tradições vão sendo mostradas de forma linear, e quando menos se espera há uma reviravolta, sob as mãos seguras de Cyntia, mais firmes a cada dia. Fala de morte, sentimentos, emoções, inseguranças e dúvidas humanas. Aborda o alcoolismo e faz crítica social, com um ligeiro mix com crenças brasileiras, politicamente corretas, além de combate à violência contra a mulher. Também há estímulo à autonomia feminina, uma pauta nacional, que está inserida por ter sido o livro escrito, em sua predominância, para brasileiros.

Como no outro romance, quando o narrador é trocado, a escritora mostra mais um domínio narrativo. Pouco mudam a linguagem e o vocabulário, mas os sentimentos sim, são outros. E quando será feita uma revelação bombástica, como nos seriados, habilidosa, Cyntia Pinheiro muda de narrador e de tempo, atrasando a revelação para adiante, em um típico suspense da série.

Adquira seu exemplar, pois muito se ouvirá falar sobre Cyntia Pinheiro, Pi-wii e Ayong e você não pode ficar de fora.

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