Desde 1975, quando depositei meu primeiro voto em Itamar Franco, do MDB, para senador, não omito minha ideologia política à esquerda, ainda que, por gratidão, já tenha votado na direita.
Múltiplos e até inexplicáveis fatores afetam a decisão do eleitor, esse ser obtuso que vence os políticos na falta de sinceridade. São determinantes para o voto a simpatia ao candidato, seu carisma, recursos disponíveis, uso da máquina pública, tempo de televisão, habilidade em gerar milhões de mensagens falsas difamatórias, impulsionadas por robôs, e a ferocidade do candidato ou de suas linhas auxiliares, em manejar o vernáculo com jogo baixo em proveito próprio ou dos seus coligados. Alguns candidatos, durante o debate, mesmo desmentidos pelos entrevistadores, não mudam a cara, e insistem na desinformação. Faz-se uma pergunta, o questionado foge do que lhe foi perguntado, em geral uma cilada por malfeitos anteriores e, em uma acrobacia verbal consegue transpor-se para um autoelogio.
Fatos passados, exaustivamente destrinchados, aceitos como verdadeiros, esclarecidos e enfrentados pelo acusado, a todo momento são requentados para parecerem novos.
Os resultados das pesquisas são tendências e direcionadores das estratégias de campanha em cada momento específico do embate. Alguns candidatos têm seu próprio sistema informativo sobre os humores do eleitorado, como também entendem como verdadeiros quando os números lhes são favoráveis.
Ocorrem idas e vindas das peças publicitárias conforme fatos e subida ou queda nas intenções de voto. O teto de cada um se define e o jogo toma o formato de embate. Ir para as ruas com seguidores, mostrar simplicidade, abraçar velhos e crianças, comer em botecos copo sujo com risco de gastroenterite, podem ajudar ou falhar quando soam falsos. No trajeto da campanha, pode-se viver “uma pantomima, uma patuscada, um sonho de uma noite de verão”, como disse indignado o ex-presidente Fernando Collor de Melo em outro contexto.
Os candidatos podem inverter seus discursos e pontos chave, conforme o desejo momentâneo do eleitor. Apenas os desesperados lançam mão desse recurso, porque a troca das defesas será entendida como despreparo e fragilidade nas intenções.
A disputa local é tensa e desperta mais interesse na população do que as demais. O ódio sai das entranhas e invade os palanques e as telas. Vê-se um destilar de palavras vis, tomadas aleatoriamente para descrever os adversários como: desaplaudido, defeituoso, desqualificado, desprezível, nojento, asqueroso, repulsivo, delinquente, cafajeste, mau-caráter, covarde, ladrão, cheirador e violador.
Em que essas palavras destruidoras da reputação alheia, podem acrescentar ao debate político e produzir algo positivo à população e à cidade cujo comando está em disputa?
Em um momento de extrema provocação, quando tudo já foi dito, o cenário se torna uma rinha de briga de galos. Essa agressividade, por mais selvagem que possa parecer, acaba sendo voz de muitos que também estavam com ímpetos de explodir.