A Bíblia foi escrita em folhas de papiro milenares por 40 pessoas sob inspiração divina entre 1500 a.C. e 450 a.C. A sua organização começou em 1455 e durou cinco anos. Com a leitura “ipsis litteris”, ou seja, “nas mesmas palavras” do Antigo Testamento, uma parcela da população volta no tempo e passa a ter a vida gerida por normas de milênios atrás. Viver em 2024 seguindo a subjugação ditada à mulher é incompreensível.
Nos tempos pretéritos, à mulher cabia ser mãe, cuidar das crianças e da casa. Não costumava estudar, muito menos a matemática. Escrevia sob pseudônimos masculinos para que suas ideias fossem levadas à sério. Pesquisavam como assistentes e muitas delas chegaram a importantes conclusões, mas os louros foram para os chefes.
Em 20 de julho de 1897 foi criada no Rio de Janeiro a Academia Brasileira de Letras, e apenas em 04 de novembro de 1977, Rachel de Queiroz entrou na Academia. O voto feminino foi conquistado em 1934, e a mulher só pôde receber herança em 1962. Antes do Estatuto da Mulher Casada, era preciso pedir autorização ao marido para trabalhar.
Como são infelizes as pessoas que se utilizam de ardis intimidatórios para angariar subserviência dos que se encontram em seus arredores. A opressão surge diante da primeira contrariedade sofrida, gerando investida desconfortável e, se não for tomada nenhuma atitude em contrário, o comportamento dominador vira norma, e aquele que pensa ter poder de mando, se sente senhor do outro, ainda que aquele não aceite ser comandado. Esse dueto desaguará na discórdia. Quem quer chefiar vai ampliando seus tentáculos, investindo sobre o ser frágil que, sem saber o motivo, comporta-se de forma resignada, o que dá confiança ao opressor.
São frequentes esses ajeitos sociais, o que, de algum tempo para cá vêm sendo chamados de relação abusiva. Sem querer, a submissão aparentada pelo oprimido dá sustentação ao sistema que se estabelece e, por comodidade perdura. O que fazer para quebrar esse círculo vicioso tão frequente e por isso mesmo tão enigmático? Alto lá, não permito que fale assim comigo!
Quem já foi oprimido passa a perseguir quem lhe parece vulnerável, seja na família, escola, trabalho ou em outro lugar. Há quem goste de ter um escravo, aquele ser sem vontade que obedece sem questionamentos.
Ninguém mandará em quem não se deixa mandar. Não há algoz sem vítima. Por mais que seja simplista pensar assim, o mundo continua dual, feito de elementos antagônicos que podem se complementar. Antes de a situação se estabelecer, com um dos lados tendo aparentes poderes sobre o outro, é preciso uma conversa franca, que em geral não avança em nome da normalização, e sim da ruptura. Interessante é que quem bate costuma se assustar diante da reação de quem não quer obedecer. Acha que o gesto extremo não tem lugar de ser. Incompreende a não subserviência.
Quando há pessoas que tensionam o ambiente onde estão, parecendo prestes a explodir a todo momento, tornam o convívio humano impossível. Quem haverá de encontrar sabedoria para lidar com os atuais paradoxos?