Em 2003, depois de sete anos tramitando no Congresso Nacional, o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741) foi aprovado. Embora muitos direitos tenham sido assegurados, a violência contra a pessoa idosa continua sendo uma cruel realidade no Brasil. A pandemia Covid-19, que colocou principalmente esse grupo em isolamento, fez com que os casos de violência aumentassem. Comparando 2019 com 2020, o aumento foi de 53%, ou seja, o Disque 100, número disponibilizado pelo governo federal para receber denúncias, recebeu quase 80 mil ligações. Nem a lei e nem as projeções populacionais que indicam que quase 15% dos brasileiros são idosos e que a expectativa é de que em 2050 esse percentual seja de 30% têm sido capazes de levar as autoridades a fazer o Estatuto do Idoso ser cumprido e nem têm provocado a construção de uma legislação mais dura e eficaz para coibir as múltiplas violências contra a pessoa idosa.
A violência econômica tem se tornado a mais comum das violências. Familiares, amigos ou pessoas próximas se apropriam da aposentadoria do idoso, deixando-o sem recursos para levar a vida digna que merece. Porque, ao contrário do que se imagina, a terceira idade, embora inativa, é economicamente uma classe forte. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, hoje, 64% das cidades brasileiras dependem do dinheiro das aposentadorias, o que evidencia a importância dos idosos para a economia. Na prática, muitos municípios não manteriam uma cadeia produtiva se não fossem os idosos. Eles também são responsáveis por aquecer a economia entorno das viagens de turismo, cultura, diversão, lazer e atividades relacionadas ao bem-estar. Soma-se a isso o papel que muitos desempenham na família. Ajudam filhos, criam netos e, muitas vezes, colocam o que comer na mesa todos os dias.
Todas essas responsabilidades e os vários papéis que desempenham são motivos que reforçam a luta por leis que possam de fato protegê-los das várias violências de que são vítimas. Tudo isso, para que ser terceira idade deixe de significar ser cidadão de terceira categoria.