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Segunda-Feira,25 de Novembro
Glorinha MameluqueAdvogada e escritora

Era uma vez...

Publicado em 24/07/2024 às 19:00.

Tenho até me assustado com a grande repercussão que minha aprovação no vestibular tem causado. Fico constrangida com tanta manifestação, mas porque não dizer: muito feliz. Muitos me perguntam o porquê eu ter enfrentado o vestibular e o curso tão pesado? O sonho é antigo, de longas datas, agora chegou a minha vez:

“Era uma vez uma menina que corria pelas ruas empoeiradas de sua terra, fazia comidinhas no quintal e brincava com os irmãos de subir nas mangueiras para colocar visgo para os passarinhos ou brincar de circo debaixo do umbuzeiro. Mas dentro dela já nascia uma vocação. Sendo seu pai vereador e muito humano em uma época que na cidade não havia médico, posto de saúde ou qualquer coisa nessa área, sabendo que estava grassando uma epidemia de varíola, conseguiu um grande lote de vacinas para a doença. Como aplicar? Anunciou na cidade e fez da sala de sua casa um posto de vacinação. Ele precisava de um auxiliar naquela tarefa. E quem foi a ajudante? A menina, de apenas dez anos. O procedimento era assim: com um estilete, fazia uma escarificação no braço da pessoa e em seguida, colocava uma gotinha da vacina. Dias depois, a pessoa estava com uma pequena ferida, sinal de que a vacina havia “pegado”.

Década de 50. Terminado o Colégio, as moças escolhiam Magistério ou Contabilidade. A menina queria fazer Medicina. O pai argumenta que é muito difícil, que ela teria que ir para uma cidade grande, o custo era caro, não poderia pagar e também “que não era coisa pra mulher.”

Conformada, descobriu que existiam cursos de Enfermagem, ainda começando, no que seu pai concordou. Era parte daquele sonho nascido na infância e um pouco sufocado pelas circunstâncias.

Estudante de enfermagem, de férias em casa, eis que surge um problema naquela cidade destituída de qualquer recurso; uma parturiente de primeiro filho, em casa, sofria porque o filho não nascia. Alguém lembrou-se da estudante e implorou que ela fosse atendê-la. Receosa, refletiu: “Não estudei essa área ainda, mas pelo menos já conheço as noções de higiene e mais algumas coisas.” Encheu-se de coragem e foi. Na madrugada, a criança nasceu sob os cuidados de uma menina de 17 anos, o que foi uma façanha comentada em toda a cidade.”

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