“A Primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.” (Cecília Meireles).
Esse pensamento de Cecília Meireles ficava martelando a minha cabeça, enquanto assistia deslumbrada a Orquestra Sinfônica de Montes Claros, na sua maravilhosa apresentação: Concertos de Primavera. Diante do caos em que nos encontramos no nosso país, com brigas políticas, com corrupções permanentes, com as agressões à vida , com o desprezo aos mais necessitados que só são lembrados nas propagandas políticas, senti-me como que em um oásis, onde nenhum mal desse mundo pudesse nos atingir. Sem barulho, sem confusões, sem brigas, apenas o som dos instrumentos: dos violinos, das violas, dos violoncelos, dos contrabaixos, das flautas, do oboé, dos clarinetes, do fagote, das trompas e trompetes, do tímpano, dos pratos e da clavinola.
Em alguns momentos, lembrei-me muito do meu esposo que amava a ´música clássica e que tinha uma coleção de discos de óperas; lembrei-me do querido Geraldo Avelar, que com Delcídia foram nossos companheiros de caminhadas na Igreja e como se sentiria orgulhoso ao ver sua filha Maria Lúcia Avelar regendo com maestria e beleza aquela orquestra.
Deixei me levar pela beleza do momento: As quatro estações de Vivaldi – La Primavera, o Amanhecer de Edvard Grieg, de uma beleza impressionante, Sebastian Bach, Tracey R.Rush, Leroy Anderson, a Meditação de Thais, a Pastoral de Beethoven e fechando de forma magistral, Romeo and Juliet overture fantasia, que nos levou de volta a Verona com tantas lembranças. Foram momentos de encantamento e de nos extasiarmos com os músicos e a maestrina, que nos fizeram esquecer das mazelas que ocupam as manchetes e a mídia desse mês de Primavera.