Levanto-me bem cedinho, arrumo-me rapidamente, faço o café, e saio de casa, levada pelo meu filho Gustavo. É a minha primeira vez na Unimontes. Tudo na vida tem o início, meio e fim. Estou então iniciando a minha caminhada de seis anos. Na minha mente, um turbilhão de lembranças que voltam a ficar bailando e me fazendo recordar. Lembro-me de uma das minhas primeiras aventuras:
Assim que terminei o curso primário e como não havia Ginásio em São Romão, meu pai levou-me para Pirapora para estudar, porque meu irmão José já estava lá. Eu tinha apenas 11 anos e era muito pequena. Fui morar em uma pensão e a dona me colocou para dormir no quarto dela. Era estudiosa e tirava boas notas, mas a ida para Pirapora ocasionou-me um misto de sentimentos: sentia muitas saudades de casa, sentia falta de minha mãe, tão amiga e confidente; sentia falta do meu pai, tão carinhoso e protetor; sentia saudades da minha casa, do meu quarto, do quintal, mas ao mesmo tempo sentia-me privilegiada por estar estudando em um ginásio, coisa com que sempre sonhei.
Meu irmão José, mais velho que eu, era o meu companheiro e cuidava de mim, suprindo um pouco a falta do meu pai. Ao me lembrar de tudo isto, vejo como meu pai era avançado para a época. Ele mal tinha o curso primário, mas queria que seus filhos tivessem um pouco mais. Poucas moças tinham esse privilégio em São Romão, apenas aquelas de famílias mais abastadas, que não era o meu caso. Isto era um fato tão importante na pequena São Romão, que nas minhas primeiras férias, a Banda de Música foi nos visitar (a mim e José), tocando na rua, em frente à nossa casa. E eu era ainda uma criança.
As memórias vão e voltam. Agora me vejo levando meus filhos para o primeiro dia de aula: agarravam-se a mim, choravam, não queriam ir. Tinham medo do novo, tinham saudades de mim, até que se acostumavam na escola.
Agora, passados tantos anos, a história se inverteu. É meu filho mais velho, Gustavo que me leva para o meu primeiro dia de aula. Muita emoção. As imagens ficam dançando na minha cabeça. São as voltas que o mundo dá. Mas só gratidão a Deus nesse primeiro dia. Pela vida, pela saúde, pela linda família que tenho e pelo sonho realizado que ficou esperando até agora para se concretizar.