Estou ali naquele ambiente austero e opulento, onde se sentam os magistrados do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, quando ocorre alguma solenidade. Já estive ali uma vez, quando meu esposo recebeu a Medalha de Mérito Desembargador Ruy Gouthier de Vilhena por serviços prestados à Justiça, para orgulho dele e nosso, ao ver o reconhecimento que ele recebeu por ter se dedicado durante 50 anos ao serviço da Justiça, a maioria deles atendendo aos mais necessitados. Tinha tanto orgulho, que mesmo doente, quando nos reuníamos em casa, ele pedia para colocar nele a medalha que havia recebido, o que fazíamos sob protestos, mas para não contrariá-lo.

Agora, onze anos depois, estou ali novamente. Quando procedem a chamada para tomar posse no cargo de Desembargador, muitas imagens passeiam na minha memória. Não posso acreditar que está sendo chamado aquele menino, que era tão traquinas e “pintava o sete” quando criança, chegando a pequenos acidentes, como quase decepar o dedo com a faca afiada do avô, com vários pontos na testa por acidentes domésticos e tantos outros. Mas é ele mesmo, que se tornou um homem dedicado, exigente, verdadeiro, fiel a todo ensinamento que recebeu dos seus pais e querido e admirado por todos com quem convive, de funcionários ou serventes, a colegas e superiores, sem fazer acepção de pessoas.

Vêm-me mente ainda um texto que líamos nas palestras do Encontro de Casais com Cristo: “Porque um menino é gente bacana que não para um minuto... um menino é um engenheiro, um médico, um cientista, um artista, um cantor, um padre, um técnico da Nasa, um aviador de avião supersônico, pelo menos em sonho... um menino é uma vidraça partida, um carro rabiscado com dedo sujo de graxa, uma bicicleta desmontada...”

Vejo ali emocionada o meu menino: que já foi engenheiro, já fabricou aviões, já foi aviador, advogado, é um artista e agora alcança o maior grau na carreira jurídica, é Desembargador, por merecimento, e fato relevante é que assinou o termo de posse com a caneta Mont Blanc do seu pai, em homenagem a ele.

É muito mais do que uma mãe poderia desejar e que o pai, lá de cima onde está, abençoa orgulhoso.