Daqui a algumas horas, será meia-noite. E aquele novíssimo recomeço pelo qual ansiávamos o ano todo torna-se possível naquele velho horizonte, como uma novidade fresca. Não sabemos ao certo o que se inicia ou o que se encerra, pois, para muitos, a mudança de datas não afeta em nada os movimentos do planeta e o curso da vida.
Não sou cético, embora gostasse de ser. Acredito no equilíbrio mágico da existência, onde entre as lacunas das horas algo incrível pode acontecer para aqueles que rezam e pedem com fervor — “pois é meia-noite, meu Deus, que venha a mudança desejada!”. E ela vem, antes mesmo do raiar do dia. Vem, porque para nos tornarmos novos, antes de qualquer coisa, é preciso acreditar que somos. Como disse o poeta Augusto dos Anjos, “A Esperança não murcha, ela não cansa, também como ela não sucumbe a Crença, vão-se sonhos nas asas da Descrença, voltam sonhos nas asas da Esperança”.
Apesar de todos os pesares, é a esperança que nos ampara. Sem ela, a vida seria apenas uma sucessão de dias sem propósito, aguardando apenas nossas partidas. A esperança nos proporciona propósito, é ela a responsável por nos mantermos atentos à vida — afinal, o amanhã é um ato de fé. Dormimos e ansiamos pelo amanhã porque há esperança em nossos corações.
Espero que ao soar da meia-noite todos nós estejamos despertos para o novo. Mas, lembremos que todo dia é um Dia Novo.
“Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas. Eis que faço uma coisa nova, agora sairá à luz; porventura não a percebeis? Eis que porei um caminho no deserto, e rios no ermo” (Isaías 43:18,19).