Com a proximidade do meu 30º aniversário, fico pensando para onde foram todas as versões que eu fui um dia? Se esconderam dentro de mim acabrunhadas com minhas metamorfoses ou, assim como roupas no armário, estão à espera que um dia as use mais uma vez? Existe uma fase na minha vida, que eu gostaria de vesti-la novamente: determinado, confiante, alegre e mais afável. Infelizmente, os meandros da vida adulta nos deixam aborrecidos para certas coisas; e azedos para tantas outras. Aos poucos, vamos deixando de lado certas coisas que julgávamos serem insignificantes. Mas, não falam por aí que somos feitos de erros e acertos? Logo, o insignificante também conta, claro – ao puxarmos algo dispensável, o indispensável pode ir junto, por engano!
Existe uma passagem bíblica, da qual eu gosto muito, que diz: “Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei homem, fiz desaparecer o que era próprio da criança. Agora vemos em espelho e de maneira confusa, mas, depois, veremos face a face” (1 Coríntios 13:11-12). O que me resta, ou melhor, o que nos resta quando nos tornamos adultos? Às vezes, só por milésimos de segundo, gostaria de ter um pensamento mais pueril sobre a vida e menos utilitarista ou fatalista.
Quando criança acreditava que quando chovia em Água Boa, local onde morei até meus 18 anos, também se fazia dilúvio em todo o mundo. Que espelhos poderiam ser portais para outras dimensões inimagináveis cheias de cores e vidas exóticas. Que a vida seria mais doce para todos meus irmãos e irmãs de caminhada; e que bastasse querer para conseguir. Essa última decepção, talvez tenha sido a mais dolorosa. Ao desaparecer o que era própria da minha criança, passei a ver as coisas pela ótica do realismo. Afinal, não é isso que se espera de um adulto crescido e funcional? Que ele passe a enxergar a vida com mais clareza e menos magia?
Não me lembro com quem comentei ou se li em algum lugar, mas, ser adulto é algo extremamente solitário por vezes. Entretanto, querido leitor, é sempre bom lembrar que solidão não é uma condição permanente, como nada na vida...