Às vezes, o dia parece ser engolido por uma enorme coisa de massa amorfa: é pesada, sufocante e me tira todo o horizonte. Nestes dias, porque nem sempre acontece esse fenômeno que não tem nada de sobrenatural, as horas derretem, perco a noção do dia e sinto que tudo é evanescente; como que se todos os minutos e átimos fossem vapor.
Nada é sólido, tenho a sensação. Acordo cansado, como se não tivesse dormido nada durante a noite. Ou, como que por descuido, tivesse segurado o mundo nas costas e não minha própria vida.
Além disso, nestes dias, me sinto como um arauto da desgraça: mentalmente, prenuncio o acontecimento de várias catástrofes. Ao atravessar cada cômodo do meu apartamento, visualizo crises globais e até presencio coisas impossíveis de acontecerem, como ter que voltar a cursar o ensino médio.
Nestes momentos sinto que troco os pés pelas mãos e minha cabeça vai para um lugar que nem sei onde fica – é fora daqui, mas também é super-real. Uma miscelânea de passado, presente e futuro imaginário.
Conforme o artigo “Uma análise etimológico-funcional de nomes de sentimentos” (2009), a palavra ANSIEDADE é “uma palavra originária do latim anxia, cuja raiz, ou operante de primeira ordem, ang significa estreito”.
Após ler isso, tive realmente a sensação que ter ansiedade é sentir e perceber a vida através de um lugar estreito, sufocante, apertado. É ver a luz das coisas por uma fresta que ora se alarga, ora se comprimi. A ansiedade é um demônio que me engole e cospe cem vezes por dia. Regurgitado, sobrevivo.
Como cantaria Florence + The Machine:
“(...) Estou sempre fugindo de alguma coisa/ Eu a empurro pra longe, mas ela continua voltando/ E ser esperta nunca me levou muito longe/ Porque está tudo na minha cabeça/ E você é muito sensível, eles dizem/Eu disse, tudo bem, mas vamos discutir isso no hospital/Enquanto isso me levanta, me derruba/ Me levanta, me derruba/ Me levanta, me derruba/ Cem vezes por dia/ Me levanta, me derruba/ Me mastiga, me cospe/ Me levanta, me derruba”.