Montes Claros, Minas Gerais, agosto de 2023
Querida trouxa,
Antes de tudo, gostaria de dizer que você não está sozinha na multidão, pois somos muitos: altos, baixos, gordos, magros, homens, mulheres, sem gênero, brancos, negros, pardos e uma infinidade de outras características. Eu entendo que no momento você se sinta como a trouxa entre todas as trouxas, a rainha da burrice amorosa e das ciladas emocionais. No entanto, isso não é verdade. Eu acredito que ser trouxa é uma prova viva de que estamos engajados no jogo, dando o nosso melhor; porém, tivemos o azar de cruzar com alguém que aprecia outras formas de jogar.
Ainda me lembro da primeira vez que fui trouxa por alguém. Senti-me a criatura mais estúpida da face da Terra: lá estava eu, humilhado e derrotado, tentando pateticamente dar a volta por cima. No entanto, o pior de tudo é que todos os sinais estavam claros desde o início. Uma das piores partes de ser trouxa é achar, justamente, que nunca cairíamos em um desatino sentimental. Mas, contrariando todos os nossos protocolos e formulários íntimos, vamos lá e quebramos a cara! A-ha! Os espertalhões da vez!
Mas vou lhes dizer algo, para que todos os trouxas desta nação possam ler: ser trouxa é uma fase; agora, ser otário é um estilo de vida. Aprenda com o erro e tente não o repetir mais, por mais que doa e seja tentador. Que todos nós possamos dar a volta por cima, mesmo que isso demande uma força incrivelmente poderosa.
E que Santa Luzia abra nossos olhos para possíveis trouxices futuras.
Amém, amiga, amém!
P.S.: “O amor é uma espécie de serviço militar. Para trás, homens covardes; não são os homens pusilânimes que devem levar os estandartes. A noite, o inverno, as longas estradas, os cruéis caminhos, todas as provas, eis o que suportamos no campo do prazer. Frequentemente, você deverá suportar a chuva que, do céu, verte aos borbotões, e muitas vezes, gelado de frio, você deitará sobre a terra nua” — Ovídio em “A Arte de Amar”.