Alexandre FonsecaJornalista, mestre em literatura e doutorando em literatura

Face a face

Publicado em 29/09/2023 às 20:35.

De manhã, lavo meu rosto com sabonete específico para o rosto. Retiro o que restou do ácido da noite anterior. Em seguida, aplico protetor solar não pegajoso e vitamina C; não necessariamente nessa ordem, é claro. Dizem que essa vitamina protege a pele contra agentes externos e internos. Não a compreendo completamente, mas compreendo o meu rosto. Olho para ele no espelho e, por milésimos de segundos, não o reconheço.

Mas esse momento passa. Porque tudo passa. É o meu rosto, mesmo que se pareça com as Trakinas das antigas propagandas de biscoitos. Meu rosto me acompanha para onde quer que eu vá. É ele: físico e mutável. Já não tenho o rosto de estreante ou de adolescente. É outro. É maduro como uma fruta que amadurece; mas será que o envelhecimento é apenas um eufemismo para apodrecer?! Também passamos por nossas estações.

Permaneço atento. De manhã, ao passar uma toalha áspera no rosto, me sinto renovado. Os pelos brancos na minha barba são como estrelas cadentes cortando o céu da madrugada. Um dia, ela será uma noite branca.

Esses breves momentos de esquecimento me consomem, porque um milésimo de pensamento equivale a uma tonelada de saudades. Não sinto saudades do que eu fui, mas sim do que ainda serei. Saudades do futuro.

Queria ser como uma fruta que nunca apodrece, porque ela sempre se renova. Dizem que as águas-vivas são eternas. Mas eu não quero ser eterno. Deus é eterno, e eu não gostaria de ser Deus. É um trabalho penoso e cheio de ingratidão.

Meu rosto atual é o meu rosto de sempre. O que muda são os olhares e as estações.

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