Alexandre FonsecaJornalista, mestre em literatura e doutorando em literatura

Eu só queria

Publicado em 08/12/2023 às 19:00.

Eu só queria ser bonito e ouvir elogios que raramente escuto. E não venham com essa de que ‘cada um tem a sua beleza’. Todos nós sabemos que não é a beleza que dói, mas a falta dela. O mundo aprecia as coisas bonitas. A natureza é bela e maravilhosa. Eu sei e você sabe, mas negamos a acreditar que a beleza não põe mesa. Põe mesa, vinho bom, talheres de prata, cardápio francês.

Pessoas bonitas são perdoadas de antemão, afinal, beleza e maldade parecem não combinar. Conheço homens e mulheres belíssimos que não valem um mísero tostão, mas estão sempre rodeados de pessoas com muitos dentes, dentes brancos, teclas de piano. Estão lá: em pé, tomando champanhe em taças de cristal, sendo perdoados pelos feios que os servem.

Pelo menos uma vez na vida, eu só queria o básico. Que um homem elogiasse não o número de livros que leio por ano, mas a curva dos meus braços ou o torneado da minha perna flácida. Não encarem isso como um contramovimento de nada — às vezes, por pura preguiça, só queria ser básico: não pensar demais, não indagar demais, não refletir demais, não rir alto demais, usar tons discretos e ser um homem simples e menos falante. Além disso, não fazer os outros sofrerem com os próprios pensamentos.

As pessoas querem beijar lábios carnudos e não correntes filosóficas. Todo mundo sabe que a beleza, mesmo que mínima, conta. Sejamos espertos, mas não muito. Afinal, um distraído bonito é a prata da casa!

Que, assim como Shakespeare, eu possa me olhar no espelho e dizer: ‘beleza, onde está tua verdade?’

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