Ele acreditava que Maria de Lourdes Fragoso era mulher leviana. Dessas que se atracava nos braços de desconhecido em uma esquina escura, mal iluminada. Mas a história de Maria de Lourdes era a que em sua cama apenas tinha havido um único homem: seu atual namorado que quase era esposo.
Mas ele duvidava da fidelidade dela. Em doses homeopáticas, atribuía as suspeitas de infidelidade nos pequenos atos a dois: lanches, cafés, saídas, sorvetes. Maria contou as suspeitas para uma amiga confidente. Disse que, de homem, apenas conhecia seu namorado e mais nenhum. Tinha feito coisas inacreditáveis por ele, pois seu pai era muito rígido. Uma vez, disse, pediu para que ela dormisse com ele. Apenas dormisse. Simplesmente, queria dormir com ela. Maria de Lourdes não conseguiu uma boa desculpa para se deitar ao lado daquele seu homem.
Ao contar isso para uma amiga, pensou que talvez fosse esse o motivo das suspeitas insustentáveis dele: a falta do “dormir” a dois. Queria tanto agradá-lo, dizia para si mesma. Se perfumar, cuidar do corpo, ela pensava nele. Os toques de creme, os produtos que usava para ficar mais bonita. Tudo tinha a mão invisível dele: uma mão que dirigia toda sua vida, como se nessa mesma mão houvesse todas as linhas que precisa seguir para ser completamente feliz. Feliz? Sim, Maria de Lourdes Fragoso era aquele tipo de mulher que queria ser feliz: comer a dois, dormir a dois, pensar a dois.
Pediu à amiga o apartamento emprestado. Mentiu para o pai. Queria ser dele, dar aquela noite que desabrochava em lua nova: clara e límpida. Ligou para ele e disse toda a situação. Animado, logo aceitou. Encontraram-se no apartamento e os dois foram tomados por um sentimento tão profundo quanto a intimidade: estavam sendo amantes de si mesmos. Ela queria aquela noite, ele a queria naquela noite. Ambos se resolveram amando-se feito brasa, mas sempre solitários.
No outro dia, com o despertar complicado, Maria de Lourdes acordou primeiro, tomou banho e preparou café. Ele acordou e foi direto para a mesa. Ambos se olharam como animais loucos em uma savana. No cruzar dos olhos aflitos de prazer, nenhum se reconheceu. Estavam perdidos: solitários e mudos.