I - Te beijei e não te reconheci. Não era mais você. Quem era? Quem era? As ondas do universo por cima das nossas cabeças, estrelas brilhando, mares flutuando, pássaros dourados. Sua imagem, seu rosto, semblante vazio. Te ter e não te ver. Quem é você? Me fala: quem você é agora? Eu não consigo mais te enxergar, está tudo ao contrário. Não consigo mais te seguir. Não sei se quero te encontrar, não sei. Quem é você? Me fala, por favor, me fala...
II - Não posso cobrar algo para o qual vocês parecem não estar preparados. Ou não querem estar. Não posso obrigar a vocês olharem nos meus olhos. Mas posso amá-los sem esperar amor em troca. Amá-los sem convicção de retorno seria meu ato mais sublime, minha espécie reversa de vingança.
III - O filósofo francês André Comte-sponville diz que o passado é algo irrevogável, por isso, tentar esquecê-lo é uma “tolice que é melhor evitar”. Não podemos esquecer o passado. Contudo, podemos perdoá-lo. “Perdoar não é apagar, que perdoar não é esquecer. Então, o que é? É cessar de odiar”.
IV - Ele chorou durante quarenta dias e quarenta noites. As lágrimas umedeceram o piso do quarto e o mofo verde-oliva apareceu aos brotos. Devido ao sal das lágrimas, a cidade foi tomada por uma maresia melancólica que não se dissipava com o crepúsculo. Após tudo, ele nunca mais soube o que é chorar. Era tão seco por dentro que até o demônio se compadeceu.
V - Alguns anos separam nossas gerações. Segundo ele, dizendo entre um bolinho de bacalhau e um gole de Eisenberg, minha geração (vocês, Alexandre...) tem sérios problemas com o sofrimento: vocês não gostam de sofrer. Vocês não veem no sofrimento o enorme potencial de aprendizado.
VI - “Amor é uma coisa, falta de alguém é outra. Você pode ser amado, sem presença. Você está sentindo solidão e quer cobrir isso com alguém. E, às vezes, você nem ama a pessoa, mas não quer se sentir só. É tão bom desfrutar da própria companhia. Se olhar no espelho. Saber seus defeitos e não querer encobri-los. Tem defeitos é bom. Nos deixa humildes. Não precisamos acertar sempre, Alexandre. Levanta e segue! Ser perfeito é muito pesado”, disse uma pessoa que, assim como eu, também tem lua em Escorpião.