Alexandre FonsecaJornalista, mestre em literatura e doutorando em literatura

Anseio tropical

Publicado em 17/02/2023 às 21:56.

A lua em Capricórnio. O sol em Aquário. O suor que escorre pelo rosto. A água gelada do banho matinal. O suco de uvas brancas fresco. A manteiga amarela derretida. O guarda-roupa clariciano que diz roupa-roupa-roupa. O silêncio glorioso e amarelo da manhã. O calor que abrasa. O zelador que corta a grama antes das dez. O cheiro acolhedor de desinfetante do hall de entrada do bloco. A gritaria dos vizinhos. A mulher do andar de cima que não sabe para onde ir. O choro do bebê com fome. As moedas que caem do bolso de alguém. Os legumes cozidos. A carne no azeite. A ânsia de estar vivo. O batimento acelerado. O frenesi do meio-dia. O calor esbranquiçado. O cheiro do corpo quente. A falta. A cama vazia, fria. 

O peito acelerado. O cheiro do asfalto quente. O sono abafado. O cheiro de amaciante das roupas lavadas no varal. A cueca de cor vermelho vivo. A sombra que passa na água e molha. O molho de chaves. A coisa entreaberta. O coração fechado. O som do micro-ondas. O cheiro do almoço. A cadeira vazia e você ausente. O toque quente da mão direita de Deus. O protetor solar pegajoso. O suor da virilha. A falta do seu gozo. O bafo quente das catorze horas. O cheiro de cigarro do vizinho. O barulho de descarga. A andorinha fazendo verão. O rádio ligado. O barulho que não incomoda. O sofá vazio. O sol que entra pela janela. O tempo arrastado. O enigma do seu dorso. A água salgada que escorre da sua nuca. 

A noite abafada. O sorvete derretido. A estrela que pisca-pisca. O barulho dos carros. A luz dos postes. A novela da televisão. O beijo encenado. O abraço marcado. A cama fresca. O perfume de lavanda. O zolpidem. A alucinação noturna. A ligação do celular. O brilho azul. A distância até ele. O espaço entre os sonhos. A face escura da criação. A sombra da virada. O descanso do divino. O caminho pela casa escura. O passo do viajante que chega. O fantasma solitário. A vizinha que geme. O banho nas horas silenciosas. A toalha verde. A mão rosa e aveludada. O incenso de alecrim. A vela vermelha e cheirosa. A flor que desabrocha nas trevas. O barulho dos pássaros noturnos. O fim da jornada. O repouso merecido. O amor tropical. Seu corpo fresco e lavado.

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