Quando o assunto é envelhecimento, acredito que exista apenas dois tipos de pessoas: as que envelhecem como vinho, sem envinagrar; e aquelas que envelhecem como leite sob o sol, passam do ponto e ficam, literalmente, perdidas. As primeiras, geralmente, obedecem a máxima imposta pelo tempo: aprendem com os próprios erros, se redimem, passam por intensas transformações e, com tudo isso, ofertam ao mundo a melhor versão delas mesmas. Se tornam ótimas confidentes e conselheiras, mas sem ter aquele ar de superioridade, saudosismo e autoridade.
As segundas, são pessoas que vivem presas no seu próprio tempo, e não digo isso de forma positiva, como “fulano segue seu próprio tempo para realizar as coisas”, não é isso. Presas no tempo são aquelas pessoas que não progridem intelectualmente, não aprendem com as bençãos de cada geração e o pior: não usam o envelhecimento como sinônimo quase perfeito de amadurecimento. São pessoas retrógadas que vivem em um saudosismo maçante e enfadonho. Muito provavelmente, esse tipo de pessoa se queixa de que as coisas em seu tempo eram melhores, que os mais jovens são incompetentes e que a atualidade precisa urgentemente voltar a velhos “hábitos”.
Automaticamente, é muito comum associarmos a figura da pessoa mais experiente, a imagem do sábio. Aquele ser que vai nos munir da resposta necessária para aquele momento tão devastador ou ímpar em nossas vidas. Mas, não se engane. Por exemplo, conheço pessoas que mesmo com toda a sorte de experiências e o acesso ilimitado a bons lugares, livros e referências se tornaram ignorantes e estúpidas. Inclusive, algumas chegam a dizer barbaridades anacrônicas.
Certa vez, ouvi que não devemos respeitar o diabo por causa dos seus chifres, mas, sim, por causa da sua idade. Porém, quando a idade não vem acompanhada de certo verniz de astúcia, ela não impõe nenhum medo. Inclusive, acredito que se essas pessoas respondessem de verdade a pergunta de Confúcio em relação a idade que teriam se não soubessem qual elas têm, certamente diriam que teriam milhões de anos, mas de anos primais, na pré-história da humanidade. Quando muitos ainda estavam apreendendo a ser gente, usando seus porretes e força bruta.