O amaldiçoado/abençoado tabaco. Quem diria, que algo comum e bem-visto tornara-se um grande tabu? Estamos diante da inversão nos valores da sociedade contemporânea, em que dispor a respeito de si mesmo tornou-se antirrepublicano, como se transpirar a própria mágoa do desafio diário que nos ajuda a enxergar o mundo, fosse algo condenável.
O tabaco é forte. Na natureza, é uma das únicas plantas que desenvolveu uma aptidão fisiológica magnífica, qual seja, a hipersensibilidade fitopatológica. A folha do tabaco consegue reconhecer que um inóculo de uma doença está em si, e a partir disso, causa a necrose ao redor deste inóculo, evitando sua própria infecção generalizada.
Estamos diante de uma atitude sábia da natureza, que nos traz a reflexão metafórica do uso do tabaco. O tabaco nos ajuda a fugir dos males do nosso próprio estresse, pois ele nos leva ao interior de nós mesmos, e em rápidos ciclos curtos de delírios nos põe nos eixos dos nos próprios sonhos, e nos lentos ciclos curtos de realidade nos põe nos eixos do trilho diário da ferrovia da vida.
Com certeza minha opinião é impopular, mas prefiro negar a ciência à enfrentar minha própria convicção de bem estar e fuga da perversidade humana. O encontro de mim comigo mesmo me proporciona a arte da ousadia.
E o cigarro naturalmente nos torna ousados, não só pela dopamina injetada em nosso corpo, como também pela irreverência social do ato de fumar.
Prefiro ser irreverente. Pois assim, escolho quem está apto a entrar na máfia da minha própria vida. Agora se você não pretende ser mafioso(a), fique à vontade, apenas não fume, pois o cigarro, irá cada vez mais afastá-lo do “bê-á-bá” do padrão de conduta exigível. E ainda que tentem cortar pelas raízes a ânsia dos fumantes, ainda haverá várias raízes espalhadas pelo mundo, que nutrirão o metabolismo dessa solanácea tão misteriosa.
Não encare essa crônica como um convite para fumar, apenas entenda, que talvez um dia eu paro de fumar. Mas com certeza será uma decisão própria e circunstancial, pois o tabaco torna o cachimbo a espontânea prova de que na vida, provavelmente, você deve ser o protagonista.