Pedro MartinsEscritor, Ciências Jurídicas e Agronômicas

Sinestesia

Publicado em 07/11/2023 às 21:20.

A sinestesia prega cilada. Certos de que na literatura uma cor pode ter um cheiro, ou um som pode ter um tato, o autor pode imergir em mundos aleatórios de contextos inusitados e correspondências com a realidade intimamente ligadas ao contrário do vice versa dessa premissa.

Isso mesmo. A sinestesia nada mais representa do que uma confusão nas sensações. O eu sinestésico, e o você sinestésico não representam a energia essencial ao mundo. Afinal, as expectativas nunca são supridas. E mesmo que de forma mirabolante, venhamos a criar contextos de intensa sinestesia, o ar do que é sintético nunca se tornará natural pela simples demonstração do sentimento em detrimento da razão.

A verdade, é que não podemos impor paradigmas, e muito menos esperar correspondência alheia quando tratamos de percepções e sentimentos. As pessoas tem autonomia existencial, e podem se comportar conforme a própria vontade.

Mesmo a intransigência dos criativos, que é capaz de gerar os contextos mais inusitados, perde em detrimento da sinestesia, que quando não é consolidada, cria a chacota do monólogo de quem expõe sem ser correspondido.

Essa é a vida em sociedade. Quanto mais cultivamos o delírio diário do sentimento, mais nos perdemos nas percepções reais do que está ao nosso entorno. O que indica, que sempre seremos refém da realidade imanente dos difusos sentimentos intrínsecos as realidades de cada um.

Mas isso faz com que sejamos nada mais do que soldadinhos no exército dos fracassados? Obviamente que não. Somos generais da existência. E em função disso, sempre deveremos lutar, em prol da guerra, e não apenas da batalha. E ainda que as estratégias não tenham seguido as linhas convencionais e uniformes da busca pelo resultado efetivo, teremos sempre, a garantia de que ao menos uma sinestesia fará sentido.

Por isso, diria que, apesar de reconhecer que os sentimentos são voluptuários, sempre existirá a base sólida da referência das coisas por meio da vida cotidiana com quem realmente podemos sentir a sinestesia. O que implica, necessariamente, que o amor não deve brotar do planejamento, e sim da espontaneidade do ato puro e simples de existir. E quem existe, sempre amará, ao menos um pouco, a si mesmo, ao ponto de determinar para si mesmo que desistir é o correto, quando não há sinestesia.

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