Entrelace de entrelances. Nas curvas sorrateiras dos caminhos trilhados pelas linhas e cordões são gerados os nós, que criam uma ruptura para com o estado retilíneo das coisas. Os nós, apesar de serem reativos a esse estado, trazem à tona o fato de que a única coisa retilínea são os extremos, quais sejam, o início e o fim. O passado e o presente.
Afinal, o presente será sempre um nó. Representa o entrelace do que ocorreu e o que poderá ocorrer. Independentemente de quaisquer outros estados temporais, o presente se materializa pelo passado e determinará o futuro. E em um estado de agregação do movimento vital, faz com que todos esses caminhos sejam exprimidos em meio a um nó, como se esse nó segurasse algo.
O problema é que, para alguns, esse nó é cego, impede que o passado e o futuro atuem harmonicamente na dinâmica da própria percepção da realidade. Para outros, esse nó é muito ornamentado, como se em costuras de crochê arranjassem um presente completamente delirante, colocando em pauta cotidiana, o passado saudosista e o futuro sonhado, desconsiderando a realidade das coisas.
Mas os nós precisam existir. Caso contrário não refletiríamos a continuidade do perpasse do passado ao futuro. Da mesma forma, reconhecer a preponderância dos nós não nos permitiria cultiva paixões essenciais à vida.
Fato é que os nós só fazem sentido se cumprirem alguma função de sustentação ou utilidade, seja isso pela utilização dos mesmos para se segurar objetos ou pela criação de aglutinações de nós que confirmam a necessidade de sustentar as coisas sob o amparo de múltiplas cordas (muitas vidas).
O nó constitui nossa identidade, que só pode ser expressada mediante a complexidade de cada ser individualizado e sua função no tecido social, seja representando uma costura nesse tecido ou até mesmo o hasteamento das bandeiras que recortamos para nós nesse complexo e dinâmico tecido social.