Pedro MartinsEscritor, Ciências Jurídicas e Agronômicas

Erro alheio

08/06/2022 às 17:06.
Atualizado em 08/06/2022 às 17:55

Diziam: aprenda com o erro dos outros, com o erro alheio que se constroem os acertos. Do que adiantaria persistir em erros que já foram elucidados? Esse postulado circulou por todas as praças, em todas as redes de bate-papo gritavam aos berros a verdade real instruída por esse ditado. Até que um jovem chamado Grampo quis se aventurar nessa odisseia, como de costume analisava as coisas em sua literalidade e com rigor.
Inicialmente, esse ditado foi responsável por uma intensa evolução de sua parte, começou a analisar os erros dos outros até que censurou seus comportamentos obscuros. O pior foi ter que analisar erros de outras pessoas que nem imaginaria que poderia desenvolver, fato é que isso fez com que ele cogitasse poder errar com o que nunca representou algo que fosse fruto de sua vontade ou pretensão.
Mas isso não o fez errar por ver os erros alheios, tão somente o fez construir-se com bases nos erros dos demais viventes. Conceito confuso. Fato é que o Grampo, como se estivesse prestes a grampear folhas dispersas que formariam a sentença de sua vida, veio a levar esse ditado muito a sério.
Do que adiantaria seguir os verbetes sem questionar? Grampo sonhava em atingir o céu um dia. Queria a qualquer custo chegar ao incólume lustre do universo, queria voar permeando as luzes radiantes e cintilantes das estrelas. Por isso, balizou-se na postura de evitar erros ao máximo. Pensou, refletiu e visualizou a gota final do caminhar ébrio do azar que nunca o atingiria.
O ditado – “Cresça com o erro dos outros” – permeou sua mente como o champagne caminha pelas entranhas das socialites. Como os ludibriados comentários sobre a vida singela e pacífica atingem a mente dos hamsters de laboratório. Como as censuras atingem a voz dos libertários, causando uma reação certa.
Assim, o Grampo o fez, começou a seguir a literalidade do ditado, por todas as caçambas da cidade começou a sequestrar o entulho, guardando-o, entendo que tudo isso representava a materialidade de fato do erro alheio, como era um grampo e não uma caldeira, não pôde diluir os entulhos em seus materiais de origem, acumulou lixo da construção civil por muitos anos, até que constrói um grotesco casarão de entulho.
Em linhas de exultação do erro alheio enquanto fator formador do seu destino acabou condenado à mediocridade de contemplar erros e não os acertos. Sua casa não será visitada, seu velório não será respeitoso, e sua vida foi, é e será sempre um acúmulo do entulho dos que o circundam, tudo isso, por acreditar que no erro, reside a evolução. 

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