As palestras motivacionais e exaltadas do Coach Gaivota eram sempre regozijadas com muito glamour e glória. Todos aplaudiam seus feitos reproduzidos pela voz intercalada com os intercorrentes pensamentos profanos da vitória inequívoca. Coach Gaivota se questionava: do que adianta passar por tantos locais da vida sem que houvesse uma efetiva vanglória unipessoal do meu existir enquanto ser intimista? Qual o sentido de ser exaltado publicamente e nunca receber alvissaras dos meus pares? E os ímpares que em vez de alvissaras me condenaram a ser uma eterna alma de araque com costumes de araras, que em monólogos próprios repetem a discórdia dos sábios e o elixir dos ignorantes com ousadias raras... Reconhecia sua falha enquanto ser humano, tudo que tentaras deu errado, não errado no sentido de não dar certo, errado inclusive em aspectos ilegais e imorais, esse era o modus operandi do Coach Gaivota. Ser fracassado não era motivo de se aprimorar, e tão somente representava a certeza de que deveria, a cada passo equivocado, incrementar em linhas nada analógicas e lógicas seu inflado ego alado. Conditio sine qua não existiria suas luxuosas trevas egocêntricas. Certa vez, andando pelas ruas da cidade inexistente que o mesmo havia criado em seu ideário, se deparou com um senhor, grisalho, cansado, mas ao mesmo tempo esbelto. Tal homem estava fumando um cigarro, e logo o Coach Gaivota afirma: - Sou o Coach Gaivota, poderia me dizer onde estou? – Estava se inteirando do seu delírio. - Está na cidade de Martelinho de Jacarandá, no bairro Tribunal dos Justos. - Mas qual Martelinho de Jacarandá? - Martelinho de Jacarandá da zona sul. - Mas nem falou o seu nome!? - Me chamo Sr. Vai Capiná Barba de Sabiá! - Poderia apagar seu cigarro? Faria bem para você! O senhor, desferindo fosfóricas bengaladas, diz: - Coach Gaivota, volta-te para o subúrbio de sua própria porta, me deixe fumar meu tabaco sem ver essa paisagem idiota! O Gaivota assim afirma: - Vocês são todos iguais, pessimistas...