Vou confessar prá vocês que essa pergunta me atormenta desde menino, quando me acordavam às quatro da manhã para acompanhar minha madrinha na missa das cinco, com uma temperatura de quase zero grau. Sempre diziam que ela rezava por mim também.
Mas o que mais me deixava curioso, é de que na mesma missa, sempre estavam presentes e rezando de cabeça baixa, se confessando, duas das comadres mais fofoqueiras e maledicentes que já conheci na vida.
Rezavam e confessavam às cinco da manhã para logo depois das seis ficarem atrás da janela fofocando de todo mundo que passasse na rua.
Hoje até poderia perguntar de que vale tanto às pessoas rezarem em templos seja de que tipo e crença forem se são incapazes de entender a verdadeira voz da oração, que deveria estar ficar, e morrer com elas. Mas não... Ao que parece a oração também se inclui entre seus projetos de posse, é sua e deve a ela somente servir. Se por acaso acharmos que algo não nos caiu bem no estomago, a oração perde seu efeito para desopilarmos a mágoa, o desprezo, a vontade de ver alguém de joelhos à nossa frente.
Alguém poderia então me dizer, prá que rezar?
Na maioria das vezes as pessoas dizem que não sabem por que alguém as deixou de amar, delas se afastou, sem reconhecer que quem pode ter provocado o deixar o afastar foram elas mesmas. Tudo porque naturalmente, vai faltar a coragem de assumir que não tem porque rezar, e, portanto, não tem porque perdoar ou entender.
Mal sabem, entretanto que entre o rezar e perdoar existe o entender quem realmente precisa de oração e perdão.
Tem pessoas que parece sentirem como uma oração o pedido de perdão de alguém, mesmo que este seja sem motivo ou razão. É o prazer da oração perdida, do fiel perfeito, do monge puro, da virgem vestal.
É a oração do pedido de perdão sem razão.
E o pior é que tem alguns que ainda vão pensar se podem perdoar.
Mas a quem? Então, pra que rezar?