Coluna Fala Sério: O Bar do Lói

Jornal O Norte
Publicado em 09/04/2009 às 10:16.Atualizado em 15/11/2021 às 06:55.

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Em uma das cidades que tive o prazer de morar, havia o Bar do Lói. Logo que cheguei à cidade os colegas de trabalho me disseram que ali era servido o melhor almoço da cidade e quem sabe da região. Fizeram tanta propaganda que dois dias depois lá fui com eles, e realmente tinham razão. Mas o que mais me chamou a atenção no dia, meses e anos depois que continuei freqüentando o local, era seu proprietário. Lói, até hoje não sei seu nome verdadeiro, e acho que muito poucos souberam. Sempre sorridente e saltitante, baixinho e gordinho mais parecendo uma rolhinha de poço, tinha orgulho em dizer que fora o melhor ponta esquerda que havia na região em seu tempo, só que o joelho direito nunca o deixara jogar nos times da capital que o queimavam na hora do exame medico. E quem o conhecia de longa data sabia que era verdade. Mas no Bar do Lói, havia uma frase na parede dos fundos, quase rente ao teto, que dizia “Chove la fora, pinga aqui dentro!” e pintada de tal maneira que se não fosse bem observada, o artista da obra o convenceria de que ali realmente havia um sem número de goteiras.



Ele sabia o nome de cada freguês e quando chegava um novo, era sempre “gente fina”. No Bar do Lói havia também dois espaços, um só para gente fina mesmo como ele dizia que ia lá só tomar um aperitivo, comprar cigarros, bater um papo com amigos no final de tarde, almoçar ou jantar até mesmo com família. O outro era o da “raça” como ele batizara. Freqüência livre, traje livre, servindo qualquer tipo de bebida, mas de linguajar e maneiras controlados. Por sobre o tapume que dividia os dois ambientes, um largo espelho fazia às vezes das hoje câmeras de vigilância para alertá-lo para qualquer possibilidade de confusão nas mesas de mini snooker e pinbolim. Quem atendia do lado de lá? O Tiriça! Bebum de marca maior, o “filotílico” do bar, sim, porque todo bar que se preze tem que ter seu “filotílico” (bêbado filósofo, filósofo etílico, daí o filotílico, que não sei quem criou!).



Final de noite, casa fechada, Tiriça acertava as contas com o Lói, já descontava seus tragos da comissão e saía cambaleando, e o Lói satisfeito porque o Tiriça, nunca “esquecia” de pagar a conta por mais que bebesse para esquecer qualquer coisa na vida.



Por falar nisso, o Lói contava que ao parar de jogar futebol, juntou suas economias e abriu um bem sortido mercadinho num bairro de gente bem! Vendeu fiado, esqueceram de lhe pagar, e ele quebrou! Conseguiu passar o ponto e abriu uma farmácia e perfumaria no centro da cidade. Mais uma vez, “doutores e madames”, compraram e como já naquela época se dava cheques sem fundos, ele outra vez, quebrou!



Descobriu então o filé para seu negócio! Um boteco, uma vez que, ao frequentar um perto de sua casa, descobriu que o “pinguço” nunca se esquece de pagar sua conta, mesmo que saia sem pagá-la hoje, mas no outro dia chega e já vai perguntando e pagando o que ficara devendo ontem. E acertou na mosca!



O Tiriça também era encarregado de avisar ao Lói quando alguém da turma de lá estava com muito dinheiro no bolso. Era sinal de que havia recebido o pagamento, ganho no bicho ou alguma coisa parecida. Como o Lói sabia mais ou menos quanto cada um recebia de salário, quando o freguês se preparava para ir embora, o baixinho vinha saltitante com uma nota qualquer na mão, chegava pro cara e perguntava se ele não tinha algum para emprestar até amanhã à noite para que pagasse aquela conta sem juros. Na hora recebia o empréstimo e guardava o dinheiro no caixa. Na noite seguinte quando seu “credor” chegava, ele o chamava a um canto e dizia:” Está aqui seu dinheiro cara, agora vai primeiro em casa deixá-lo com sua mulher e depois volta, se ela deixar, é claro!”



Tudo bem! E o que tem a ver o “filotílico” com toda essa história, perguntarão vocês.



Explico!



Segundo o Tiriça, nosso “filotílico” do Bar do Lói, se você se sente em meio a um forte temporal lá fora, não se preocupe goteiras de amizade logo cairão na sua vida!



E batendo a mão no lado esquerdo do peito, mandava a gente ler a frase na parede!



Então era isso! Nunca entendera porque o O do “dentro” no final da frase, era em forma de um coração, maior do que as outras letras e em vermelho!



A ideia fora dele! Poxa! Eta Tiriça!

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