Ronaldo Duran
Romancista
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Que ocasião mais marcante é a do chá de cozinha. Estar com as amigas de longa data, com as conhecidas, pintam até as remanescentes, aquelas que pensávamos que nem existissem. Cada uma trazendo uma iguaria para o estômago igualmente não ser penalizado com a delonga da reunião. Pois nessa ocasião minutos, horas voam. A gente vai lembrando quando conheceu o par perfeito. As menores coincidências tornam-se passagens dignas de roteiro de filme. A gente se sente especial. Que um anjo bom lá em cima nos trouxe essa pessoa e ela nos conquistou.
Como uma festa de aniversário, por mais divertida e cheia de inovação, a gente adivinha o itinerário, as falas, os cumprimentos, os risinhos, as piadas, alegrias, os choros, fofocas, lamentações, maledicências, e quando estamos quase fatigados, vêm mais choros, lamentações, piadas...
Tudo convencional, certo? Nada. Não para a noiva do paisagista moderninho. Se ele foi passar a última noite no bordel com os amigos de copo, ela que não ficaria atrás. As mulheres não queimaram sutiãs de bobeira nos anos 60. Direitos iguais.
A sala acolhedora, com um som que acalma os nervos, com um chá saboroso fumegando na xícara, biscoitos, pães doces, cede lugar a uma agitação típica dos anos noventa. Portanto, há mais de uma década na moda.
O clube das mulheres é uma boate de preferência. Lá, numa grande mesa redonda, quadrada ou até um palco posto no centro do salão serve de apoio para um ou dois homens, trajando short curto ou sunga, com o porte atlético, barriga de tanquinho, bíceps avantajados. Ele rebola suavemente. As mulheres se aproximam dele. Ele se agacha e recebe um beliscão nas coxas musculosas e uns trocados depositados no canto da cueca.
Longe de esgotar os trejeitos do modelo, muito menos a voracidade de certas mulheres. No geral, limitam-se ao plano da catarse. As mulheres animadas pelo álcool e nutridas pelo ódio histórico de serem trocadas por meretrizes, de se saberem objeto de prazer egoísta por séculos e séculos, encontram escape para a ira.
A noiva do paisagista grita, zurra. Aperta as coxas suadas do garotão. Bebe. Jean Paul Sartre e Madame de Beauvoir empalideceriam diante desta ousadia? Ou achariam normal, uma evolução do viver em casas separadas? Quem sabe a agitação toda é para a noiva deixar de pensar no paisagista dentro do prostíbulo.