Casos e ocasos: Catchup no pequi - por JC Junot

Jornal O Norte
Publicado em 21/09/2009 às 14:08.Atualizado em 15/11/2021 às 07:11.

O que faz uma dupla sertaneja em cima de um trio elétrico, cantando "Have you ever seen the rain?", um clássico rock´n´roll do Creedence Clearwater Revival? Resposta: desfilando no Carnamontes 2009. Juro que fiquei atônito com o que vi e ouvi.



Como não sou entendido em carnavais fora de época, micaretas e afins, achei estranha a combinação. Acho que seria o mesmo que colocar farinha na macarronada ou catch up no Pequi. Afinal, são coisas que me parecem muito bem definidas e se resolvem por si só. Porém, nem tudo é só o que aparenta. Sempre há o inesperado, o novo, o inusitado.



Como aprendi que devemos ter a mente aberta para o mundo novo que surge a cada manhã, fiquei atraído pela combinação, muito mais pelo sincretismo musical do que por afinidade aos gêneros.



O fato é que toda pluralidade é ressonante. E se o povo gosta, vale a experiência. Afinal, "sincretismo é a fusão de elementos culturais diferentes, ou antagônicos, em um só elemento, continuando perceptíveis alguns sinais originários", ensina Mestre Aurélio.



Eu, do meu lado, tenho uma teoria para explicar essa harmonia heterogênea. Aliás, uma teoria muito simples, que se resume na certeza de que "música boa é boa em qualquer ritmo".



Exemplos não faltam. O bolero de Ravel encabeça a lista dos clássicos que podem ser encontrados nas mais variadas versões. E, no Brasil, o projeto "Bossa in Concert" rendeu bons CDs transformando sucessos dos Ramones, Rolling Stones, Guns´n´Roses e outros em cândidos arranjos bossanovistas. E não foi o único. A música dos Beatles é cantada em prosa e verso e de todas as formas imagináveis. Há, inclusive, uma versão em bom samba de breque, a la Adoniran Barbosa, que faz sucesso nas baladas paulistanas. E, por último, o projeto The Beatles Complete on Ukelele pretende regravar todas as 185 músicas do quarteto de Liverpool ao som do ukelele, que é nada mais, nada menos, que um cavaquinho havaiano. Ah...e cantadas em várias línguas.



Não se sabe se a idéia surgiu antes ou depois de Paul McCartney tocar Something num ukelele, em homenagem ao ex-parceiro de banda, George Harrison. De qualquer maneira, lançou ou incentivou a moda. E, em se tratando de McCartney, tudo merece respeito.



Por isso, me pergunto se há espaço para o preconceito no showbiss. No palco de um trio elétrico ou no do Albert Hall, em Londres, uma boa música entrará em sintonia com seu público magnetizando a todos, conforme o talento de quem a interpreta. Por isso, creio que todo preconceito é burro, inclusive o musical.



Claro que existem as preferências. Uns preferem rock, outros pagode, gospel, cristã etc. Assim como ninguém é obrigado a gostar de carnaval, muito menos do som potente de um trio elétrico. Sei até que muitos preferiam ver o Carnamontes de binóculo - e pelas costas. Mas como o mundo não é feito por quem exclui e sim por quem agrega, viva a democracia, que mesmo não agradando baianos e marianos, é a representação do gosto popular. E contra o povo não há argumentos.

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