A onda dos reality shows parece que chegou à televisão brasileira para ficar. Além dos prêmios polpudos, a possibilidade de fama tem atraído cada vez mais adeptos que disputam aos milhares por vaga, cada vez que é anunciado um novo programa.
Mesmo diversificando cenários e estilo dos participantes, a mise en scène é a mesma.
Como uma colcha de retalhos, os storyboards montados por produtores de reality shows envolvem mansamente as pessoas até que sua atenção esteja completamente voltada para o espetáculo que se desnuda na telinha com ares de casual, de improviso, mas, na verdade, friamente calculado.
Por não empregar atores e os participantes parecerem desconhecidos uns dos outros no início, a ideia que o telespectador tem é que tudo o que acontece durante o programa é decorrente apenas da convivência dos participantes, quando na verdade todo o processo é conduzido por uma equipe de editores e produtores e várias câmeras escondidas, que criam a imagem de um programa real, sem roteiro.
Desde Survivor 's, que alcançou recorde de audiência na TV norte americana em 2000, dois elementos chamam a atenção nesse tipo de programa: os participantes e suas histórias supostamente tomadas da vida cotidiana, e o público que os assiste.
Os herois dos reality shows se apresentam normamente como cidadãos comuns em busca do estrelato, ou do minuto de fama, dispostos a tornar pública sua vida privada. É uma pessoa anônima que, de um dia para o outro, ganha status de estrela.
Já o telespectador, alimentado pelo voyeurismo, fica hipnotizado pela personagem que tem uma história parecida com a sua, uma espécie de validação pessoal, de consciência de que existem pessoas com os mesmos tipos de problemas e desejos que os seus.
Para o grande público, o reality show tem a função de dar voz a pessoas comuns em vez de estrelas, aparentemente de forma democrática, ou seja, qualquer pessoa poderia estar ali na tela, em rede nacional, no horário nobre e ser uma celebridade.
Com a imensa influência que exerce sobre o público, além de entretenimento, o reality show poderia servir de inspiração para mudanças de estilo de vida, como parar de fumar ou manter uma alimentação saudável, se configurando assim, como uma experiência socialmente útil.
Jerúsia Arruda
Editora-chefe