A partir desta segunda-feira, o Brasil vive um novo tempo, sob o inédito comando de uma mulher: Dilma Vana Rousseff. Eleita presidente da República por mais de 55 milhões de votos em uma das disputas eleitorais mais acirradas do país desde o fim da ditadura militar, Dilma Rousseff, primeira mulher a ocupar o cargo, toma posse com a promessa de escalar a erradicação da pobreza com sua principal meta.
Uma das maiores repúblicas democráticas do mundo, o Brasil tem uma história conflitante em relação à condição feminina, cuja participação foi desprezada ao longo dos séculos. Ainda hoje o papel feminino é subjugado, a condição financeira e profissional em relação ao mercado de trabalho que lhe é imposta é injusta e muitos de seus direitos básicos ignorados. Mas, agora, o mais alto cargo da nação é ocupado por uma mulher.
À frente da presidência, Dilma terá que vencer algumas batalhas, dentre elas a de driblar preconceitos, promover a união das diversas correntes partidárias e ideológicas, estabilizar a economia e, principalmente, fortalecer a democracia.
Mas a presidente inicia seu governo com a vantagem de não precisar utilizar os subterfúgios do balcão de negócios do Congresso, já que conta com o apoio da maioria absoluta de deputados e senadores, legitimados nas urnas. Dilma também conta com a aprovação popular do governo Lula bem como dos resultados promissores alcançados pelo seu governo, o que certamente viabilizará, sobremaneira, seus próprios projetos.
Ao iniciar o discurso de posse, no dia 1º de janeiro, Dilma disse se orgulhar de ser a primeira mulher a ter a faixa presidencial cingida sobre seu peito e se emocionou ao garantir que será uma presidente para todos os brasileiros, deixando claro que estão superadas as divergências partidárias da campanha e que em seu governo não haverá discriminação, privilégio ou compadrio. A presidente prometeu defender a valorização da mais ampla liberdade, inclusive dizendo que prefere o barulho da imprensa ao silêncio da ditadura.
Dilma dedicou o momento de posse, que ela disse um dos mais felizes de sua vida, aos companheiros de luta contra a ditadura que ficaram pelo caminho. Ela disse ter dedicado sua juventude à defesa da democracia e da liberdade do país e, mesmo tendo sido presa e torturada, não guarda mágoa ou rancor.
Dilma faz parte da geração que pegou nas armas para enfrentar a ditadura militar brasileira, na década de 1960, e muitos dos jovens que participaram da luta, na época, não conseguiram sobreviver às torturas e à fúria dos militares, e a revolução não chegou a lugar nenhum. Ao subir a rampa do Planalto, é como se Dilma finalmente coroasse o movimento com vitória.
A posse de Dilma Vana Rousseff na presidência da República Federativa do Brasil no dia 1° de janeiro de 2011 é como se fosse um marco do fim de 1968, ano de sonhos e mudanças em todo o mundo, e iniciasse uma nova página para os remanescentes dessa juventude que lutou e deu a própria vida pela conquista da liberdade e da democracia do Brasil.
A vitória de Dilma também representa um novo ciclo para a história do Brasil, assim como representou a vitória de Barack Obama para os Estados Unidos: uma superação de preconceitos e de valores retrógrados, e o desejo sincero de um povo que acredita que o mundo pode e será bem melhor.
Jerúsia Arruda
Editora-chefe